Lino Rodrigues - O Globo
SÃO PAULO - O economista e ex-ministro Delfim Netto afirmou ontem que ficou “espantado” com as declarações da presidente Dilma Rousseff, que, na terça-feira, reconheceu em entrevistas ter demorado para perceber a gravidade da crise econômica, e que “2016 não será uma maravilha”. Segundo o ex-ministro, até 2013 o país não enfrentava grandes problemas econômicos, mas, em 2014, o atual governo decidiu destruir as finanças públicas deliberadamente para conseguir a reeleição.
— Até 2013, você não tinha grandes problemas (nas finanças). Havia alguma orientação equivocada. Mesmo as finanças públicas, que apresentavam um déficit de 3% do PIB, e a dívida pública representando 53% do PIB não eram nada trágico. Mas, em 2014, foi uma coisa deliberada. Eles destruíram as finanças públicas deliberadamente para obter a reeleição — disse Delfim Netto, durante o seminário “Repensando o Desenvolvimento Produtivo no Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas, que contou a presença do ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (Sae).
Delfim, que se tornou um dos conselheiros dos governos do PT desde a eleição de Lula, em 2003, disse que, apesar de a crise econômica ter sido criada para viabilizar mais um mandato, não pode se queixar da presidente Dilma, “uma pessoa inteligente”.
— O primeiro dever do governo é continuar governo seja lá como for, porque é a única forma de corrigir os erros que já foram feitos e poder fazer outros — justificou o ex-ministro, acrescentando que Dilma lhe lembrou o “velho” filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), que dizia que “as piores mentiras são as que contamos para nós mesmos. As que contamos para os outros não têm importância”.
Apesar das críticas, Delfim se mostrou otimista em relação ao futuro da economia brasileira Segundo ele, desde José Bonifácio (1763-1838), todos os governos do país se comprometeram a controlar despesas, inclusive ele mesmo, quando foi ministro da Fazenda (entre 1967 e 1974), e mesmo assim o país viveu mais de 20 crises, “iguais a essa que estamos vivendo”.
— Com todo o controle das despesas, tivemos umas 20 crises, ou 30, iguais a essa que estamos vivendo, e qual é a surpresa? Somos hoje a sétima economia do mundo, com 200 milhões de habitantes, e o quadro final não é tão ruim quanto parece. Mais do que isso, tivemos momentos que incluem praticamente 50 anos de crescimento a 6,5%. Tínhamos defeitos como o da distribuição de renda, mas todos melhoraram — disse.
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