• Turbulências e iniciativas contraditórias conferem imprevisibilidade ao clima político; instituições, pelo menos, têm atuação sólida
Um antigo filme educativo americano procurava explicar o que ocorre durante uma reação nuclear. Numa sala fechada, dispunham-se centenas de ratoeiras, cada qual com duas bolas de pingue-pongue ajustadas a seu mecanismo.
O cientista arremessava uma bolinha na direção de algum ponto do sistema. As molas da primeira ratoeira se soltavam, disparando seus projéteis. Em poucos instantes, os entrechoques se generalizavam para todos os lados. Desencadeava-se o inferno, essa a ideia, da explosão de um núcleo atômico.
O noticiário político dos últimos dias segue o ritmo dessa simulação. O mero lapso de 24 horas não parece suficiente para abrigar todos os acontecimentos que, favoráveis ou adversos à sorte da presidente Dilma Rousseff (PT), se sucedem em saraivada vertiginosa.
Tinha-se, por exemplo, a decisão de parlamentares oposicionistas de refrear sua estratégia em prol do afastamento da petista.
A denúncia formulada pela Procuradoria-Geral da República contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diminuiu seu poder para colocar em pauta o traumático processo. Seria difícil, concluíam os oposicionistas, abrir o pedido de impeachment sem que o presidente da Câmara dos Deputados o protagonizasse.
Estavam assim os entendimentos entre tucanos e democratas quando, no mesmo dia, veio do Tribunal Superior Eleitoral uma decisão que pode mudar o clima.
Formou-se maioria naquela corte a suspeitar que recursos desviados da Petrobras tenham financiado a campanha de Dilma. Dadas tais desconfianças, é de questionar se persiste a cautela oposicionista.
Novas iniciativas e turbulências, contudo, se sucedem. Renunciando ao papel de coordenador político do governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) expôs as contradições entre a tenacidade do Ministério da Fazenda e os imperativos da negociação parlamentar.
O governo busca retomar a iniciativa: promete liberar R$ 500 milhões para emendas parlamentares; apresenta proposta de redução ministerial que havia rejeitado outras vezes. A tese do impeachment é criticada por figuras de proa no meio financeiro e empresarial.
O alento mal se percebe; eis que a Lava Jato agora incide sobre novos personagens importantes, não só do petismo, como Antonio Palocci, mas também do círculo dilmista: os ex-ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo.
As ratoeiras –que não se leve a mal a comparação– encontram-se espalhadas por todos os lados. Se da violência da crise política o resultado é imprevisível, resta pelo menos a certeza de que o país conta com instituições sólidas e com experiência para superá-la.
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