Entrevista. Luiz Carlos Mendonça de Barros
• Para ex-ministro, há ‘certo afastamento’ da classe política e a pressão dos empresários será insuportável
Por Alexa Salomão - Estado de S. Paulo
Há alguns dias, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, defendia um pacto de governabilidade a favor da presidente Dilma Rousseff. Para ele, era a melhor solução para a crise política. Nesta quarta-feira, se declarou surpreso com adecisão da Standard & Poor’s (S&P) e considera que as repercussões do rebaixamento serão mais políticas do que econômicas. “Ela vai ter de renunciar. É o capítulo final”, disse. Abaixo, trechos da entrevista ao Estado.
Quais são as consequências do rebaixamento?
Ahhh, minha filha. Vixe! Vem coisa muito ruim pela frente...
Parece que o sr. ficou surpreso
Fiquei. Não esperava isso para agora. O governo estava trabalhando para ajustar o fiscal, mas é fato, todo mundo estava vendo, que mesmo essa busca estava muito caótica.
A S&P é a agência que teria um contato mais próximo com o ministro Joaquim Levy...
Sim, e isso quer dizer que ele não conseguiu passar a confiança de que o Brasil vai conseguir fazer o ajuste fiscal de que precisa.
E quais são as consequências?
Acelera o desgaste dela, acabou o governo dela (da presidente Dilma Rousseff).
O sr. está dizendo que teremos repercussões políticas e não apenas econômicas?
As duas coisas ultimamente andam juntas. E acho que deteriorou tanto que o efeito político vai prevalecer desta vez. Para o governo dela é um baque muito forte. As repercussões políticas, neste caso, podem superar as econômicas.
Por quê?
O governo dela já estava esfarelando, como falou o Fernando Henrique Cardoso, imagine a reação do mercado, do dólar, em função disso. A pressão dos empresários agora vai ser insuportável. Também já há um certo afastamento da classe política em relação ao governo dela. Acho que ela vai ter de ir embora. Vai ter de renunciar. É o capítulo final.
E quais serão as repercussões econômicas?
Muitos fundos só podem investir em papéis de países com grau de investimento. Se um país perde o grau de investimento, os fundos são obrigados a vender os papéis. Apesar de você precisar que duas agências rebaixem o Brasil, o fato de uma já ter tirado o grau de investimento vai, com certeza, provocar algum movimento, ainda mais no atual ambiente do País. Os mercados tendem a reagir já prevendo que outra agência pode tirar o grau de investimento. Gera um efeito em cascata.
Muitos analistas diziam que já estava precificado um eventual rebaixamento...
Não. É um veredicto muito forte, em um ambiente já deteriorado, principalmente em relação à questão fiscal, às contas públicas. Ao menos, agora, vamos ter de parar e trabalhar para ver se reverte isso.
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