• Standard &Poor’s foi a primeira a retirar selo de bom pagador obtido pelo País em 2008
• Mercado trabalhava com possibilidade, mas em um prazo maior
• Além da recessão e da falta de perspectiva nas contas públicas, crise política também pesou na decisão
Nove dias após o governo enviar ao Congresso projeto de Orçamento com déficit de R$ 30,5 bilhões,a agência internacional de classificação de risco Standard & Poor’s tirou do Brasil o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador que dá confiança a investidores. O rating brasileiro caiu de BBB- para BB+, com manutenção da perspectiva negativa. A perda ocorre sete anos após a S&P pôr o Brasil num seleto grupo de nações. O País, porém, ainda mantém o grau de investimento das agências Fitch e Moody’s. Além da recessão e falta de perspectiva nas contas públicas,pesou a crise política. Para a agência, a mudança incorporada ao Orçamento – de déficit de 0,3% do PIB, em vez da meta anterior de superávit de 0,7% – “reflete divergências internas sobre a composição e a magnitude das medidas necessárias para corrigir a derrapagem nas finanças públicas”.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, reconheceu que a notícia foi recebida com surpresa no Planalto.Mas,segundo ele,a mensagem é de tranquilidade, porque segue o esforço para melhorar a situação fiscal. Já na equipe de Joaquim Levy (Fazenda), o desânimo foi gigantesco porque o Brasil demorou para conquistar o grau de investimento em 2008 e será difícil recuperá-lo. Para hoje,mercado prevê alta de dólar e juros
S&P tira o grau de investimento do Brasil
• Agência diz que o aumento dos desafios políticos pesam sobre a capacidade do governo de apresentar um orçamento com a correção sinalizada no começo do ano
Adriana Fernandes, Mateus Fagundes, Renato Martins - O Estado de S. Paulo
O pior cenário desenhado para a economia brasileira se tornou realidade. Nove dias após a presidente Dilma Rousseff enviar ao Congresso o projeto de Orçamento com déficit em 2016, a agência internacional de classificação de risco Standard & Poor’s retirou do Brasil o grau de investimento - uma espécie de selo de bom pagador que dá confiança aos investidores para aplicarem o dinheiro em um País. Ou seja, a decisão pode afastar ainda mais os investidores.
A Standard & Poor’s rebaixou o rating do Brasil de BBB- para BB+ e manteve a perspectiva negativa da nota. O País, porém, ainda mantém a nota de grau de investimento das agências Fitch e Moody’s.
"Os desafios políticos do Brasil continuam a aumentar, pesando sobre a capacidade e a vontade do governo em apresentar um orçamento para 2016 ao Congresso coerente com a correção política significativa sinalizada durante a primeira parte do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff", diz a agência.
O mercado já tinha colocado a possibilidade de rebaixamento nos preços dos ativos, mas os juros e o dólar devem abrir nesta quinta-feira em forte alta como reflexo da decisão.
A perda ocorreu sete anos depois de a mesma S&P ter colocado, pela primeira vez, o Brasil no seleto grupo de países com a nota de grau de investimento, depois de um trabalho de mais de uma década para o País conseguir esse feito. Não foi fácil o Brasil chegar a esse nível, já que por muito tempo carregou o estigma de ter pedido moratória da dívida externa na década de 80.
Além da crise fiscal e falta de perspectiva de melhora das contas públicas, pesou na decisão da agência o quadro recessivo da economia. Mas a crise política - sem sinais de melhora diante das declarações recentes de lideranças do Congresso - foi o ingrediente maior para o rebaixamento.
"Nós agora vemos menos convicção, dentro do gabinete da presidente, sobre a política fiscal", diz o comunicado. No fim de agosto, o governo enviou ao Congresso Nacional uma proposta orçamentária com previsão de déficit primário consolidado equivalente a 0,34% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, em meio a um cenário recessivo e de dificuldades para aprovar medidas de ajuste fiscal.
Entenda. O rating, ou nota de crédito, é o resultado da avaliação de uma agência de classificação de risco sobre a qualidade de um título de dívida emitido por uma empresa ou país. O rating indica, portanto, se o emissor é um bom ou mau pagador e quais as chances de acontecer um calote daquela dívida.
Um grande número de fundos de pensão, fundos de investimento e de carteiras de aplicação, por lei ou regulamentação específica, só pode aplicar em títulos seguros, que levam certificado de grau de investimento.
O rebaixamento dos títulos do Brasil implica forte redução de procura por eles, movimento que costuma ser antecipado pelos mercados. Além disso, a redução do preço do título implica alta dos juros. Ou seja, o Tesouro terá de pagar mais pela sua dívida.
PIB. A S&P espera que a contração do econômica do Brasil seja mais profunda e longa e que o País enfrente dois anos consecutivos de retração do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2015, a agência projeta que o PIB irá recuar 2,5%. Em 2016, a retração deve ser de 0,5%. A S&P acredita que o País somente voltará a crescer, ainda que modestamente, em 2017.
A agência disse ainda que as perspectivas de crescimento para o Brasil são inferiores às de países em um estágio semelhante de desenvolvimento, apesar dos esforços do governo com o ajuste fiscal e a aproximação dos setores produtivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário