quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Para Aécio, 'governo da presidente Dilma acabou'

• Oposição ressalta erros da política econômica e prevê fuga de investidores

Por Cristina Tardáguila, Martha Beck, Gabriela Valente, Cristiane Jungblut, Junia Gama e André Machado - O Globo

BRASÍLIA e RIO - A redução da nota de crédito do país, que tirou o país da zona de bons pagadores — o chamado grau de investimento — abasteceu a artilharia da oposição. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse, em comunicado, que o fato mostra que "o governo da presidente Dilma acabou". Para o tucano, o fato era um "desastre anunciado". "Infelizmente, a perda do grau de investimento do Brasil e aperspectiva de revisão negativa nos próximos doze meses mostram que o governo da presidente Dilma acabou. Um desastre anunciado. Resultado da incompetência e dos erros do governo", disse Aécio, no comunicado.

O tucano repetiu que o governo vem cometendo erros na condução da política econômica. Ele alertou que o governo da petista "não tem base política" para aprovar reformas estruturais no Brasil. "O Brasil perdeu hoje o grau de investimento fruto de erros sucessivos de política econômica dos últimos seis anos, agravados pelo desvio de recursos públicos e aparelhamento político das estatais. O cenário é ainda mais grave porque estamos em um governo no qual a presidente terceirizou a sua política econômica. Um governo que não tem hoje uma base política com força para aprovar reformas estruturais e um governo que não tem sequer um plano de governo", disse o tucano.

Críticas à política econômica
O tucano disse que em 2008 o país conquistou o grau anterior ainda fruto de ações tomadas nos dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "No entanto, afirmou, a partir de 2009, o PT colocou em prática a sua política equivocada de intervenção na economia, expansão desenfreada de gastos públicos, crescimento exagerado da dívida pública em dez pontos do PIB de 2009 a 2014. A oposição tentou na campanha de 2014 discutir rumos para o ajuste daeconomia e foi atacada pela propaganda partidária do PT que negava a existência de uma grave crise econômica que se aprofundava em decorrência da não adoção de medidas corretivas pelo governo em conjunto com a expansão da despesa pública para eleger a presidente candidata", disse Aécio, que foi candidato a presidente nas eleições de outubro.

Em nota, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), chamou a perda do grau de investimento de “tragédia anunciada” e disse que seria uma comprovação da “incompetência” da presidente Dilma e da falta de condições de conduzir o país na crise econômica.

“A presidente Dilma simplesmente ignorou todos os alertas que foram feitos há tempos pela oposição e por especialistas sobre o agravamento da crise. Posou de arrogante e preferiu buscar culpados para a crise, em vez de apresentar soluções. A perda do grau de investimento coroa o fracasso deste governo que não tem uma política econômica, não tem rumo e não tem mais jeito. No momento em que o país enfrenta uma recessão sem precedentes, com o pior resultado na geração de empregos formais dos últimos 15 anos, a perda do selo de bom pagador é um banho de água fria nos investimentos, imprescindíveis para a retomada do crescimento”, afirmou.

Sampaio ironizou declaração do então presidente Lula, em 2008, quando a S&P concedeu o grau de investimento ao Brasil. Na ocasião, Lula afirmou que o título significava que o Brasil era um país sério e mundialmente respeitado.

“Infelizmente e por obra dos próprios governos do PT, de Lula e Dilma, hoje o Brasil está com o nome sujo na praça”, afirmou.

No Rio para o lançamento do livro "A miséria da política", FH também comentou a perda do grau de investimento:

— Pedra cantada. Consequência do que foi feito. E uma realidade inquietante — disse ele após a notpicia ser levada para a mesa de debate por um presente. — Estamos saindo do caminho aceitável. E grave.

Para ele, o governo não pode ignorar esse acontecimento pois ele indica que "estamos saindo do caminho aceitável no mundo contemporâneo", mas que, se o governo agir a tempo, pode ser apenas momentâneo e revertido.

Para Agripino, é o 'início do caos'
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que o rebaixamento é o "início do caos" e significa que os investidores internacionais se afastarão do Brasil. Para Agripino, o fato se deve à perda de comando da presidente.

— Perder o grau significa o início do caos. O que nos dava esperança eram os investimentos externos. Os investidores passarão ao largo do Brasil. e a recessão vai se agravar. O que é difícil vai ficar mais difícil e o que é ruim vai ficar péssimo. A presidente Dilma já vinha no processo de perda de controle — disse Agripino.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que o rebaixamento significa a "falência do atual governo".

— É o atestado internacional da falência do atual governo, o total descrédito desse governo perante o cenário internacional. Ir do grau de investimento para o grau de especulação é algo inimaginável. Se já temos uma situação difícil interna, teremos uma situação calamitosa no cenário internacional.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho, lamentou o episódio e disse que caberá à população arcar com as consequências.

– Cada vez mais assistimos a um governo desmanchar e impor à população brasileira um custo muito elevado. A culpa é da administração do PT e da presidente Dilma. Cultivaram um governo perdulário, produziram um desastre nas contas públicas e a população está sendo penalizada. Significará mais ônus para o povo. Significa uma recessão ainda mais profunda e desemprego ainda mais elevado – diz o deputado.

Para Mendonça, a perda do grau de investimento demonstra uma situação de “ingovernabilidade”.

– É uma sentença de ingovernabilidade e da incapacidade da presidente Dilma de comandar os destinos do Brasil. É a decretação da ingovernabilidade absoluta. Isso alimenta o impeachment. O governo que tem quase um ano de reeleito e foi incapaz de apresentar uma agenda com o mínimo de credibilidade, que pudesse minimizar os efeitos de uma crise que foi gerada pelo próprio PT e tirar o país dessa situação caótica – afirma o líder do DEM.

Para Renan, só retomada muda quadro atual
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que só a retomada do crescimento econômico pode tirar o Brasil da atual situação, ao comentar o rebaixamento do grau de investimento do país pelas agências internacionais.

Renan afirmou que vem avisando que a solução dos problemas do país passa pelo aquecimento da economia.

— Temos dito, e queria repetir, que a única maneira de resolver esses problemas que afetam o Brasil é pela retomada do crescimento econômico. O ajuste fiscal foi feito, o Legislativo colaborou, mas só a retomada do crescimento econômico tira o Brasil dessas condições _ disse Renan.

Ele destacou que o Legislativo tem "colaborado" com o país. Apesar dos embates quanto às medidas a serem adotadas para o governo aumentar a arrecadação.

— O fundamental é que o Legislativo, o Senado especialmente, está fazendo tudo para superarmos essa dificuldade. Apresentamos uma agenda, estamos avançando na apreciação desses pontos. Definitivamente, precisamos fazer as reformas estruturais, dar eficiência ao gasto público e retomar o crescimento. O que for preciso para que sigamos esse caminho, tem que ser priorizado.

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), defendeu que o governo tome medidas “urgentes” para cortar gastos e apresente propostas para recuperar o crescimento.

– É um fato grave, algo que o país temia, mas se conhecia o risco. Demonstra a necessidade de medidas urgentes para cortar gastos, conter a criação de novas despesas e discutir a recomposição das receitas e como se retoma o crescimento econômico em um médio prazo, até porque não tem passe mágico para isso acontecer. Levy vem cumprindo seu papel. Mas precisa não só ser fiador do ajuste, como fazer propostas para o crescimento. Isso mostra que Dilma tem que fazer ajustes, diminuir gastos e cortar ministérios. E o Congresso precisa ter atenção com temas em tramitação que gerem gastos – afirmou o peemedebista.

Aliados minimizam decisão da agência
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), disse que esse rebaixamento já era esperado e que isso deve ao quadro de instabilidade política interna.

— Era uma coisa, digamos, esperada.

O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), disse que "não é o fim do mundo" o Brasil ser rebaixado pela S&P e que a agência não tem a última palavra sob o ponto de vista econômico. Delcídio disse que o governo tem feito o dever de casa, mas reconheceu que é hora de agir e que não há mais tempo para "testes e lero-lero".

— Não é o fim do mundo. A Standar&Poors não é a última palavra sob o ponto de vista econômico. Basta ver a bolha imobiliária americana que levou o mundo em 2008 aquela situação de extrema dificuldade e o mundo até hoje não se recuperou e ngn enxergou isso naquela época. Agora, temos que fazer nossa lição de casa com humildade. Temos os projetos, como a repatriação (de recursos que estão no exterior). É a vida que segue — disse Delcídio.

Para o líder, é hora de agir, de o governo tomar as medidas para reverter o déficit e permitir a retomada do crescimento econômica. O senador disse que é não há mais tempo de se fazer testes com propostas, como ocorreu com a CPMF.

— Não tem mais testes. Não podemos ficar de lero-lero. Temos que agir, temos que fazer, temos que ter gestos. Isso vai nos levar a implementar as medidas que falamos hoje. É o caso da repatriação, da avaliação dos programas do governo, é atacar questões estruturais, como o caso da Previdência. O fato desse rebaixamento ter aparecido hoje, ele mostra que vamos trabalhar, trabalhar em cima dessas propostas que estão aí colocadas. Realmente mudar esse cenário, esse pessimismo. Mas o governo fez dever de casa. O pacote encaminhado pelo governo... todas as medidas fiscais foram aprovadas aqui.

Por sua vez, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que o rebaixamento é ruim para o Brasil, mas que isso não derruba governo.

— Não posso acreditar que vocês imaginem que uma agência de avaliação possa derrubar o governo. É uma crise e ela tem que ser ultrapassada. Era possível que isso acontecesse. É ruim para o Brasil. O meu partido tem uma preocupação fundamental com o país de chegar a esse ponto _ disse Eunício.

Para o líder do PDT, André Figueiredo (CE), que apesar de dizer que a perda do grau de investimento é “irrelevante” para o país, afirmou que o Brasil está “refém” de Joaquim Levy.

– É irrelevante para nós, porque temos a clareza de que essa é uma tentativa do mercado de cada vez mais intimidar o governo e os brasileiros. Ficamos cada vez mais reféns do ministro Joaquim Levy. Isso prova que ele não representa a segurança ao mercado. Ele não está cumprindo o papel para que foi designado, que era dar segurança ao mercado, controlar a taxa Selic e manter o câmbio estável. O Brasil tem que fazer uma opção: ou continua a diminuir as desigualdades sociais, ou cuida dos interesses do mercado – afirmou o pedetista.

O líder do Solidariedade, Arthur Maia (SDD-BA), destacou que a medida trará consequências “severas” para os cidadãos.

– Isso vai ter consequências muito severas para a vida dos cidadãos. A perda do grau de investimento vai elevar a taxa de juros e vai ser desastroso para quem está devendo no cartão de crédito, crediário, cheque especial. Isso podia ter sido evitado se a presidente Dilma tivesse tomado medidas de contenção de gastos. O povo brasileiro que não quis contribuir com a campanha para reeleger Dilma agora vai pagar a conta da forma mais perversa: com desemprego e aumento da inflação – afirmou o deputado.

O deputado acredita que o ministro Joaquim Levy não pode ser apontado responsável pela situação e que ele sofre "boicote" por parte do PT e do ministro Nelson Barbosa (Planejamento).

– Não acho que a culpa seja do Levy. Hoje ele defende a tese minoritária no governo mais conservadora e vem sofrendo boicote internamente, principalmente por parte do ministro Nelson Barbosa, que quer manter a política petista do estado gastador – diz Maia.

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