• Ministro critica políticas anteriores e alerta para risco de dólar disparar
Bárbara Nascimento e Geralda Doca - O Globo
- BRASÍLIA- Um dia após o governo entregar ao Congresso, pela primeira na História, uma peça orçamentária deficitária, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, criticou, de forma velada, a condução da economia nos últimos anos. Ele fez uso de um ditado americano para afirmar que, com a mudança do ambiente global, os problemas brasileiros ficaram expostos:
— Na maré baixa é que você descobre quem está com calção e quem está sem calção.
Segundo Levy, diante da crise econômica global, o cenário para o crescimento do país se tornou menos favorável. Ele disse que a situação é “grave e persistente”, e destacou que a solução passa por um desafio à sociedade e ao Congresso e por um “sacrifício” do governo, que terá de rever despesas de forma profunda e procurar novas fontes de receita.
— A verdade é que, quando as coisas ficam desfavoráveis, a gente descobre onde estão os problemas. São problemas antigos, que estavam mascarados por uma situação ou por outra — afirmou o ministro.
Levy ainda manifestou preocupação com a crescente alta do dólar:
— Evidentemente que, se a casa não estiver em ordem, é impossível crescer, e a gente vai ver o dólar disparar. Veremos, inclusive, o ganho que a gente teve este ano em relação à inflação, que está caindo, pode ter até um risco.
A crítica se estendeu à política de desonerações adotada nos últimos anos. Levy enfatizou que o país precisa de responsabilidade fiscal para evitar uma previsão de gastos sem receitas equivalentes.
— A gente não pode gastar. Se dermos aumento, depois poderemos ter dificuldade para pagar o que foi permitido.
O ministro também defendeu a manutenção dos vetos feitos pela presidente Dilma Rousseff a vários projetos que serão analisados pelo Congresso. Entre as matérias, está o aumento às carreiras do Judiciário. Levy argumentou que a derrubada dos vetos provocaria turbulência política e iria piorar ainda mais os indicadores de desemprego.
Levy passou ontem cinco horas no Congresso respondendo a perguntas de parlamentares e escutando queixas, sobretudo de deputados da bancada do Rio Grande do Sul, que está com graves problemas financeiros e, no mês passado, deu calote no pagamento da parcela da dívida com o governo. Durante a sessão, ele chegou a comparar a situação atual com o cenário vivido pelo país no início da década de 80. O ministro insistiu que o governo terá de se sacrificar no corte de despesas obrigatórias e frisou que a máquina pública precisará de um “choque de eficiência”.
O governo, garantiu Levy, tem uma estratégia para sair da crise que envolve o desenvolvimento de uma meta de médio prazo para corrigir ineficiências na relação com o Legislativo; uma “ponte fiscal”, com geração de receitas adicionais; e uma série de reformas estruturais para reduzir os gastos.
— Precisamos ter cuidado, o choque é grande e a gente não quer tentar resolver com a inflação ( como nos anos 80). É uma realidade. Nós vinhamos de um período de expansão e a maré mudou. A ficha tem que cair — alertou Levy. — Se a gente não quer mais impostos, não pode ter mais despesas.
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