• Sob 'fogo amigo', ministro foi contrário a enviar Orçamento com rombo e agora tenta solução com apoio de líderes da base
Vera Rosa e João Villaverde - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Mesmo sem esconder a contrariedade com o rombo escancarado no projeto de lei do Orçamento de 2016, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começou a se reaproximar dos líderes de partidos aliados no Congresso, na tentativa de encontrar uma solução para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões.
"Nós precisamos de firmeza para lidar com essa situação", disse Levy, ontem, na Câmara dos Deputados, ao comparar o atual quadro do País ao do começo dos anos 80. "A maré mudou e a ficha tem que cair."
O ministro queria um corte maior das despesas públicas, da ordem de R$ 15 bilhões, mas a presidente Dilma Rousseff não aceitou. Sem a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), conhecida como "imposto do cheque", restou ao governo admitir o vermelho nas contas.
Levy foi contra, mas acabou vencido. Nas discussões internas, o titular da Fazenda questionou os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) sobre o impacto, na economia, da decisão de expor o déficit no Orçamento. O maior temor da equipe econômica é que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do Brasil, que pode perder o grau de investimento.
Dilma, porém, não gostou da nova tesourada oferecida por Levy e preferiu o Orçamento "realista". Ela também tinha dúvidas sobre a recriação da CPMF, defendida por Barbosa e Mercadante como alternativa para não explicitar o rombo.
Foram três dias de agonia, mas a presidente só desistiu de vez da CPMF depois que o vice Michel Temer disse a ela que um projeto para aumentar imposto não passaria nem na Câmara nem no Senado. Não foi só: Temer avisou que não moveria uma palha para ajudar o Planalto. Além de não contar com o apoio dos aliados, Dilma não teve respaldo dos empresários.
Canhões e miopias. Nos bastidores, Levy chegou a chamar a CPMF sugerida por Barbosa de "Grande Berta", numa alusão ao canhão produzido para a Primeira Guerra Mundial, que, apesar da capacidade para disparar munições a longa distância, não era eficiente, por causa do peso excessivo. Na outra ponta, a equipe do Planejamento dizia que a Fazenda agia de forma "míope", só enxergando cortes à sua frente, sem sensibilidade política.
Depois da tempestade, porém, Levy e Barbosa decidiram submergir. Dilma deu a ordem para que os dois mostrassem unidade no anúncio da proposta orçamentária, na segunda-feira, mas o desconforto do ministro da Fazenda ficou evidente.
"O problema é que a briga do Levy é com a realidade. Diante do aumento do desemprego e da recessão, não dá para ter um ajuste fiscal do tamanho que ele quer", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR). "A sensação que a gente tem é que Levy está na frigideira, com o óleo cada vez fervendo mais", disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Fiador da política econômica, o ministro sempre foi visto pelo mercado como uma "bússola", mas, nos últimos tempos, tem enfrentado a impaciência de Dilma e o "fogo amigo" no PT e no governo. Apesar disso, não tem intenção de deixar o cargo, ao menos por enquanto. "Se Dilma demitir Levy, o governo acaba", provocou o senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM.
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