• Petrobras, Petrolão e seus efeitos tiram dois pontos do PIB
- Valor Econômico
Enquanto o barco da economia brasileira afunda, discute-se de quem é a culpa pela recessão profunda que deverá levar o país a uma retração de 3% ou mais da atividade econômica este ano e a um desemprego de dois dígitos, em uma crise que se arrastará por 2016.
Esse, porém, não é um debate estéril, ao contrário. É preciso ter claro se a recessão - produzida com esmero pelo próprio governo - decorre da política econômica austera de Joaquim Levy, ministro da Fazenda alçado ao posto de vilão, ou se é bem anterior a ele.
Mais ainda, qual a fatia de responsabilidade pela crise cabe ao Petrolão que, ao estourar em 2014, levou consigo boa parte dos investimentos diretos e indiretos da Petrobras - a companhia que mais investe no país. Entre 2010 e 2014, a estatal foi responsável, em média, por 8,8% do total de investimentos, o que equivale a cerca de 1,8% do PIB.
Para responder a essa pergunta e, com isso, esclarecer o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-presidente Lula sobre a origem do desastre econômico em que o país mergulhou, a Fazenda divulgou na noite de quarta-feira um estudo intitulado "Impactos da Redução dos Investimentos do Setor de Óleo e Gás no PIB".
Elaborado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), o texto conclui que os efeitos diretos, indiretos e laterais da Operação Lava-Jato e da queda dos preços do óleo no mercado externo respondem por quase 70% da retração da economia esperada para este ano. As investigações da corrupção na Petrobras arrastaram as maiores empresas de construção do país e deram um tombo nos investimentos da estatal, afetados também pela queda dos preços internacionais do petróleo em meados de 2014.
"O impacto global, sobre a economia brasileira, da necessidade de a Petrobras redimensionar, repetidamente, seus planos e atuação, sem contar eventuais repercussões políticas de investimentos passados, pode explicar uma contração temporária da economia em excesso a 2 pontos percentuais do PIB ao longo de 2015", destaca o estudo. Difícil é isolar apenas os efeitos da Operação Lava-Jato.
O economista da LCA, Bráulio Borges, em uma abordagem distinta, concluiu que três setores - construção civil, bens de capital ligados à indústria extrativa e a automobilística, que pesam pouco menos de 6% no PIB - devem responder este ano por 2,3 pontos percentuais da queda de 3% esperada para o PIB. Uma fatia não desprezível desse impacto viria dos subprodutos das investigações da Operação Lava-Jato sobre a atividade. Mas outros elementos da política econômica também atuaram na retração, como a redução de 40% dos investimentos públicos, o fim da expansão imobiliária, o aperto do crédito e o aumento dos juros.
Há razões para esmiuçar por que chegamos aonde estamos, pois não se consegue consertar a situação se não estiver muito claro de onde vieram os erros. Tão importante quanto dimensionar os efeitos de curto prazo das investigações de corrupção na Petrobras - os de longo espera-se que sejam saneadores - é identificar os danos da nova matriz macroeconômica, do desrespeito ao sistema de preços, do intervencionismo do governo, da gastança irresponsável dos recursos públicos na produção da recessão.
Caso contrário, vai tudo para a conta da ortodoxia de Levy e a solução, simples, será substituí-lo por alguém mais flexível. Nem houve tanta ortodoxia, pois este ano haverá novamente déficit primário das contas públicas (ainda que por causa da queda das receitas e não pelo aumento do gasto).
Os efeitos do escândalo na Petrobras se ampliam para além dos seus fornecedores e chegam às atividades das grandes empresas de construção civil e mecânica. A SPE avaliou esses impactos pela ótica da oferta (queda da construção civil) e da demanda (redução da Formação Bruta de Capital Fixo). Estimou o impacto direto das reduções dos investimentos da Petrobras sobre o PIB; considerou o efeito multiplicador dessa queda pelo resto da economia; e avaliou o efeito da redução dos investimentos das empreiteiras, decorrentes ou não da queda dos investimentos da Petrobras.
A mais recente estimativa da estatal é que seus investimentos ficarão em US$ 25 bilhões este ano, com retração de US$ 12,1 bilhões (33%) sobre o ano passado. Como os investimentos da Petrobras respondem por 1,8% do PIB, se a redução dos investimentos em bens e serviços domésticos mantiver igual proporção, de 33%, haveria queda de 0,6 ponto percentual no PIB.
Estudo da FGV indica que a redução de R$ 1 bilhão no investimento da Petrobras, se forem considerados os efeitos multiplicador e renda, impacta o PIB em R$ 2,5 bilhões. Portanto, o resultado negativo da redução do plano de negócios da estatal seria da ordem de US$ 30 bilhões, ou 1,7% do PIB.
Um exame do comportamento global das empresas produtoras de petróleo mostra declínio médio em torno de 20% no total investido, o que corresponde a uma fração expressiva da redução verificada na Petrobras
Grandes fornecedores da Petrobras têm enfrentado impactos no acesso ao crédito, assim como a novos contratos com o setor público. O impacto negativo desses desdobramentos sobre as empresas é de difícil apuração, por serem de capital fechado.
A Tendências Consultoria avaliou, no entanto, que pode ter havido queda de 15% nos investimentos das empreiteiras, o que corresponderia a uma redução de 0,4 % do PIB. A composição dos impactos direto, indireto e "lateral" da contração do investimento da Petrobras pode, portanto, ter superado dois pontos percentuais do PIB já em 2014.
No conjunto, atesta a SPE, a deterioração da economia e da percepção de risco traduziu-se em uma forte contração das receitas tributárias, acima do que decorreria de fatores cíclicos, agravando as finanças dos Estados.
O barco afunda, nenhuma força política está disposta a lançar uma âncora e o PT de Lula e Falcão está empenhado na própria sobrevivência. Por ora todos querem sobreviver. Dilma Rousseff ao impeachment, Eduardo Cunha à cassação do mandato e assim por diante. Não há, no horizonte, perspectiva de desenlace.
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