• Copom, pela segunda vez consecutiva, não altera os juros, mesmo que a inflação se aproxime dos dois dígitos. Trata-se de grave característica do momento
Há decisões do Copom, conselho de política monetária, formado por diretores do Banco Central, que têm concordância uníssona. Mais raro é o Copom manter a taxa básica de juros enquanto a inflação se aproxima da perigosa barreira dos dois dígitos, e mesmo assim haver uma aceitação generalizada.
Isso por si só denota a gravidade da situação da economia brasileira. O BC não alterou, pela segunda vez consecutiva, a Selic de 14,25%, devido a motivos convincentes.
Em grave estagflação, o Brasil mergulha numa recessão estimada este ano em 3%, e, mesmo com uma inflação ainda em alta, seria temerário apertar, mais uma vez, os freios monetários, diante do risco de se aprofundar a desaceleração e respectivos efeitos deletérios no mercado de trabalho, na renda das pessoas, e assim por diante.
Outra razão, muito séria, batizada pelos economistas de “dominância fiscal”, é que elevar mais os juros, nessas circunstâncias, apenas amplia o desequilíbrio das contas. Num déficit total de pouco mais de 9% do PIB — três vezes mais que os 3% considerados prudentes no limite —, entre 7,5 e 8 pontos percentuais já correspondem à conta de juros.
Ou seja, a proverbial irresponsabilidade fiscal de Dilma 1 somada à tibieza no enfrentamento da questão em Dilma 2, até agora, tornou inoperante a política monetária, praticamente colocou o BC fora de atividade.
Há discussões acadêmicas sobre o que fazer com as metas de inflação e o câmbio, porém o mais eficaz seria um corte efetivo de gastos. Com isso, as pressões na inflação retrocederiam e os juros poderiam desescalar. Os gastos volumosos na remuneração dos títulos da dívida pública — de que dependem os trabalhadores e assalariados em geral com dinheiro no FGTS, fundos de pensão etc. — cairiam, a economia poderia retomar o crescimento e, portanto, gerar mais receita tributária. Voltariam a funcionar as engrenagens de um círculo virtuoso na economia.
Mas os cortes precisam ser feitos. Caso contrário, há alto risco de haver um ajuste selvagem por meio de inflação descontrolada e uma recessão mais profunda.
O sério problema é que os fatos se desdobram em maior velocidade que a ação de um governo em catatonia e um Congresso em que os presidentes das duas Casas, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ), da Câmara, e Renan Calheiros (AL), do Senado, estão sob ameaça da Justiça. Um deles, Cunha, alvo de denúncias consistentes de manter dinheiro sujo na Suíça, e que se sustenta no cargo por oportunismo da oposição e da situação.
A crise política se torna dominante num momento trágico do país, em que a presidente que se reelegeu com promessas falsas precisa desfazer o que fez, sem se desdizer, por motivos pessoais e partidários. Tragédia grega.
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