sexta-feira, 23 de outubro de 2015

'Antes de falar de mim, falem da presidente', diz Cunha

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Numa entrevista concedida a um deputado estadual do PSDB de São Paulo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse na noite desta quinta-feira (22) que vai "cumprir até o último dia" de seu mandato e que aqueles que pedem sua renúncia deveriam avaliar primeiro a situação da presidente Dilma Rousseff (PT).

"A presidente da República foi eleita pela maioria dos votos em segundo turno. Hoje, ela não tem o apoio de um dígito da população e, nem por isso, eu estou cobrando que ela renuncie", disse Cunha.

Na verdade, segundo a última pesquisa Datafolha, 8% da população avaliam o governo da petista como ótimo e bom. Isso dá a Dilma, portanto, um dígito de aprovação.

Cunha fez a comparação de sua situação com Dilma ao ser questionado pelo presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB-SP), se pensava em renunciar. O deputado do PMDB concedeu entrevista à TV Legislativa, aproveitando sua passagem pela capital paulista para participar de uma sessão solene na Assembleia.

"A renúncia é um ato unilateral e eu vou cumprir até o último dia do meu mandato", afirmou Cunha. "Fui eleito com a maioria absoluta dos deputados no primeiro turno, contra o governo e contra a oposição. Então, não são gestos ou movimentos de governo e oposição que vão me constranger", concluiu.

A oposição voltou a pedir nesta semana o afastamento de Cunha do cargo para que ele possa se defender das acusações de que manteve patrimônio não declarado fora do país e usou dinheiro hospedado em conta na Suíça parapagar despesas pessoais de sua família. Ele também é acusado de receber propina desviada de contratos da Petrobras.

Apesar disso, deputados adversários do governo têm poupado Cunha de críticas públicas. Já integrantes da base aliada têm cobrado a renúncia de Cunha em atos na Câmara.

"Aqueles que acham que eu não deveria continuar, que não devem me apoiar mais mais, não tem problema, é o direito de cada um. Mas fui eleito pela maioria absoluta dos votos em primeiro turno", rebateu Cunha.

O deputado voltou a dizer que é alvo da divulgação "seletiva" de denúncias, numa ação coordenada para desgastá-lo. Ele chegou a dizer que, nos bastidores, brincam que não existe a Lava Jato. "Existe a Lava Cunha."

Renúncia
Cunha repetiu que não pretende renunciar à presidência da Câmara por conta das denúncias contra ele na Operação Lava Jato.

"Fui eleito legitimamente pelos deputados e vou cumprir meu mandato", afirmou. Questionado se acreditava ainda ter o mesmo apoio entre os colegas de quando foi eleito, argumentou que "baixa popularidade não é motivo para renunciar".

Como de costume, ele preferiu não comentar os desdobramentos das denúncias de que teria recebido propina no escândalo da Petrobras. Nesta quinta (22), o STF determinou o bloqueio de R$ 9,4 milhões em contas no exterior atribuídas a Cunha e familiares.

"Não sou comentarista de delação. Meus advogados vão falar por mim quando tiverem acesso às denúncias", disse.

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