• PSDB se divide entre processo no Congresso e ação do TSE que pode cassar chapa de Dilma
Por Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA — Com os nervos a flor da pele e sem saber como reagir, petistas e líderes do governo já esperam que a oposição, articulada com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deflagre semana que vem o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, na Câmara. Na noite desta quarta-feira, horas depois da sentença dada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) recomendando a rejeição das contas de 2014, um senador petista fez um desabafo que mostra o desalento dos aliados diante do que descrevem como “encruzilhada para a presidente”: a pior derrota foi na parte da manhã, com o boicote de deputados da base a sessão do Congresso nacional para votação das chamadas pautas-bomba, comprovando duas vezes seguidas o fracasso da reforma ministerial em troca de votos para barrar um eventual pedido de impeachment.
— A reforma não adiantou nada, Dilma perdeu aliados e fortaleceu Eduardo Cunha. Depois de um mês apanhando, mesmo com a revelação das contas na Suíça ele saiu fortalecido. Viu a facilidade com que ele esvaziou Picciani e comanda o boicote do quórum? Agora na próxima semana, aproveitando o calor da decisão do TCU, eles botam o impeachment para andar. Só não fazem isso se forem idiotas. O que podemos fazer? Ir amanhã para o plenário denunciar o golpe — disse o senador petista.
Além da guerrilha em plenário para tentar esvaziar a decisão do TCU, líderes do governo explicam que o ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo; e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, vão buscar uma reaproximação com Cunha, a quem cabe tocar os pedidos de impeachment na Casa. Logo depois de tomar posse, Wagner se reuniu com Eduardo Cunha, restabelecendo a ponte bombardeada por seu antecessor, o hoje ministro da Educação Aloizio Mercadante.
Os dois, Wagner e Berzoini, também vão intensificar a liberação de emendas e a distribuição de cargos do segundo escalão. O intuito é tentar pacificar parlamentares de partidos da base, que abandonaram o blocão governista, antes liderado por Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Os rebeldes são comandados pelo presidente da Câmara no boicote as sessões de apreciação dos vetos nesta semana que passou. A estratégia de Cunha era mostrar força e fazer fracassar o primeiro teste da base governista pós-reforma.
Ação entre aliados
Cunha tem articulado com os aliados, inclusive da oposição, para mandar arquivar o pedido de impeachment impetrado pelo ex-petista Hélio Bicudo e pelo jurista Miguel Reale Júnior. A estratégia prevê que, em seguida, os partidos de oposição recorram do arquivamento ao plenário, que pode deliberar sobre a continuidade do processo.
— Mesmo com a decisão do TCU ainda pendente de votação no Congresso, está claro para nós que eles vão usar isso para alimentar o processo de impeachment na Câmara, já na semana que vem. O Berzoini vai chamar os deputados que boicotaram a sessão para conversar. Tem muita revolta porque muita coisa de segundo escalão que foi prometida não foi cumprida. Se o governo ficar nesse ‘rame rame’, só aprovando matérinhas, sem mostrar uma base de sustentação firme, vai ser difícil segurar — avaliou um dos caciques petistas com assento nas reuniões do Planalto.
Segundo o relato desse líder, o pior de tudo é o péssimo estado de ânimo da presidente Dilma Rousseff, que estaria sem rumo e sem noção da gravidade da situação.
— A presidente está meio catatônica. Ela ouve a gente falar mas parece que não processa, fica te olhando sem responder. Sabe aqueles boxeadores que são nocauteados e continuam de pé? Ele está de pé, mas já foi nocauteada, demora a cair. Dilma está desse jeito. E Lula, que tenta ajudar, também está num constrangimento só, não tem muito o que fazer — conta um interlocutor da presidente Dilma, descrevendo a inércia dela diante do agravamento de sua situação nos tribunais e no Congresso.
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