quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Míriam Leitão - Alta rejeição

- O Globo

As contas chegaram todas de uma vez, mas elas foram sendo contraídas no primeiro governo Dilma. O que a pesquisa CNI- Ibope mostra não é uma baixa popularidade, mas um alto índice de rejeição à presidente e às suas decisões em todas as áreas. A política contra a inflação é desaprovada por 83% dos entrevistados. Com a alta da gasolina e a disparada do dólar, aumenta o risco de a taxa chegar aos 10%.

Arejeição à presidente Dilma chegou de forma rápida e é muito forte. No Ibope, é o maior índice da série que pega todos os governos da era pós- militar. Nem o ex- presidente José Sarney, no auge da hiperinflação e em fim de governo, nem o ex- presidente Fernando Collor, perto do impeachment, atingiram este resultado de 69% de pessoas entrevistadas considerando o governo ruim ou péssimo.

Chegou a um ponto que até as estatais criticam o governo. A “Folha de S. Paulo” publicou ontem os documentos enviados pelas geradoras elétricas federais à Aneel confirmando o que foi dito pelos analistas que criticaram a política que havia reduzido os preços: foi erro de gestão mais do que problema hidrológico o que as afetou e deixou um rombo de R$ 20 bilhões para absorverem. Eletrobras, Eletronorte e Furnas afirmam que a falta de correção no setor em 2014 se deve ao período eleitoral. Esse jogo aparentemente esperto do governo de reduzir a tarifa, fazer propaganda eleitoral e jogar a correção para depois das urnas levou ao tarifaço. Isso deixou as empresas em dificuldades, elevou a inflação que, por sua vez, aumenta a rejeição ao governo. A esperteza do marketing político é parte da ruína da presidente.

A pior conta da crise está desembarcando na casa das pessoas através do desemprego, que está em alta. Este é o período do ano em que a taxa para de subir e começa a cair prenunciando as contratações de fim de ano. Mesmo assim, o índice de agosto continuou em elevação. Quase nove milhões de brasileiros saíram de casa naquele mês procurando emprego e não encontraram. O erro foi não ter feito as mudanças estruturais que elevassem a competitividade do Brasil, aumentando o dinamismo econômico. Em vez disso, o governo adotou medidas de subsídios e isenções às empresas, que mascararam os problemas.

A rejeição é tal que atinge políticas que têm efeito positivo, como a de combate à pobreza. Chega a 68% de desaprovação. Em grande parte, é resultado do uso que foi feito do Bolsa Família durante as eleições e do entendimento da sociedade de que não há o necessário controle nas concessões dos benefícios. O item que recebe mais desaprovação é o dos impostos ( 90% desaprovam), seguido pelos juros, que recebem a rejeição de 89%. Mas a reação contrária da sociedade atinge as políticas de saúde, educação e segurança pública. O povo, pelo visto, está contra tudo isso que está aí, para usar uma velha expressão do PT.

Diante desse quadro, a presidente Dilma Rousseff decidiu fazer uma reforma ministerial que desse mais cargos ao PMDB e assim, supostamente, reduzisse o risco de interrupção do seu mandato. O que a presidente ainda não entendeu é que, enquanto sua rejeição for tão alta, permanecerá o risco. Ele não será afastado com manobras de gabinete que signifiquem aumentar o toma lá dá cá. Dilma precisa mostrar à sociedade que tem respostas contra a crise.

A conta fiscal chegou pesada. Em quatro anos de mandato, a presidente levou as finanças públicas ao colapso. O dado divulgado ontem pelo Banco Central faz o Brasil lembrar os países que estiveram no centro da crise financeira de 2008. O déficit nominal do setor público alcançou 9,21% do PIB em agosto. Nenhum governo do mundo consegue se sustentar com um rombo desse tamanho. Ele tem origem no descontrole fiscal, mas aumenta ainda mais pela alta dos juros, que não podem cair sob risco de disparar a inflação, e pelos swaps cambiais.

A situação é tão crítica que mesmo quando saem do cálculo esses gastos com juros e swaps, ainda assim o número fica no vermelho. O superávit primário se transformou em um déficit primário crônico. O problema das contas contraídas pelo governo Dilma é que o país é que terá de pagar.

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