• Credit Suisse estima taxa em 10%. Impacto no IPCA virá em outubro
Daiane Costa - O Globo
O anúncio do reajuste da gasolina e do diesel elevou as projeções de especialistas para a inflação do ano e, pela primeira vez, projeta- se uma alta de até dois dígitos, de 10% — muito acima do teto da meta estabelecida pelo governo para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA), de 6,5%. O impacto do reajuste da gasolina no IPCA deve ficar entre 0,14 e 0,20 ponto percentual no ano. Para os analistas do Credit Suisse, que elevaram a 10% a projeção para o IPCA este ano, entrou na conta a expectativa de um novo aumento dos combustíveis, da mesma magnitude, ainda este ano.
“Nossa expectativa de maior depreciação do real e a visão do Credit Suisse de que os preços internacionais de petróleo vão subir são compatíveis com o aumento do gap entre os preços domésticos e os do exterior. Assim, a correção desse gap, junto com a possibilidade de aumento da Cide sobre a gasolina, representa um relevante risco a novos aumentos nos combustíveis”, diz o relatório.
Para analistas do Banco Fator, o impacto será de 0,20 ponto, com a projeção para a inflação passando de 9,61% para 9,81%.
O economista Luiz Roberto Cunha, que depois do anúncio reviu de 9,5% para entre 9,7% e 9,8% sua projeção para o IPCA de 2015, ressalta que é a primeira vez que um aumento reflete, claramente, a desvalorização do real:
— Até agora, os repasses ao consumidor ( da alta do dólar) haviam sido muito tímidos, em razão das vendas fracas, dos estoques altos da indústria e do desemprego. Praticamente só quem viajou para o exterior ou comprou vinhos e perfumes importados sentiu a alta do dólar. E são itens que não têm muito peso no IPCA. No entanto, agora temos um reajuste que atinge a grande massa e que pesa. A Petrobras está muito endividada, e boa parte dessa dívida é em dólar.
Para Cunha, o reajuste é um marco simbólico dos efeitos da crise no país:
— A crise econômica e política, que gera desvalorização cambial, tem um custo para o bolso do consumidor e piora as projeções futuras para a inflação.
Apesar de o reajuste anunciado na terça- feira à noite pelo governo ter sido o primeiro de 2015 para esses dois combustíveis, a inflação da gasolina e do diesel medidas pelo IPCA já acumulam no ano, respectivamente, alta de 9,65% e 7,43% — taxas acima da inflação média geral, de 7,06%.
Salomão Quadros, da Fundação Getulio Vargas ( FGV), explica que os dois combustíveis ficaram mais caros no decorrer do ano em razão do restabelecimento da cobrança de PIS/ Cofins e da Cide pelo governo. Ele também elevou em 0,2 ponto, para 9,6%, a projeção para a taxa este ano.
Além dos tributos, explica Manuel Fonseca da Costa, presidente interino do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Rio ( Sindicomb), pesou na inflação desses dois combustíveis o aumento de 3% no diesel, repassado aos postos pelas distribuidoras há dois meses.
Segundo o IBGE, para cada 1% de reajuste da gasolina na bomba, existe um impacto de 0,04 ponto percentual no IPCA do mês. No caso do diesel, essa relação é bem menor: o impacto fica em 0,001%. O efeito do reajuste da gasolina, que tem peso de cerca de 3,84% na composição do IPCA, será sentido no índice de outubro, e uma parte residual, em novembro.
Alta no diesel encarece frete
O diesel não tem impacto direto no bolso do consumidor e pesa apenas 0,14% na composição da taxa da inflação, mas afeta preços de fretes e do transporte público, como os ônibus, cujo próximo reajuste ocorrerá somente em 2016, no município do Rio.
— O aumento do diesel acaba contaminando o preço de outros itens, já que os caminhões de transporte são movidos a diesel. Mas é um impacto que demora muito mais a ser sentido e chega diluído ao consumidor — explica o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo ( CNC) Fabio Bentes.
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