• Em 12 meses, déficit nominal acumulado é de 9,21% do PIB, o pior resultado da série histórica
Bárbara Nascimento - O Globo
- BRASÍLIA- As contas do setor público — governo central, estados, municípios e estatais — fecharam em agosto com déficit de R$ 7,3 bilhões. Apesar de o resultado negativo ter sido menor do que o registrado em julho, no acumulado do ano as contas ficaram pela primeira vez no vermelho, com déficit de R$ 1,1 bilhão, equivalente a 0,03% do Produto Interno Bruto ( PIB). É o pior resultado para o período desde o início da série histórica, em 2001.
O relatório divulgado ontem pelo Banco Central ( BC) mostra também uma elevação do déficit nominal, que inclui os gastos com juros, e da dívida bruta, por conta do peso desses juros na dívida. No acumulado do ano até agosto, o déficit nominal chegou a R$ 339,4 bilhões, 8,87 % do PIB. Em 12 meses, já atinge 9,21% do PIB ( ou R$ 528,3 bilhões), o pior resultado da série histórica.
Já a dívida bruta do setor público atingiu 65,3% do PIB em agosto, alta de 0,7 ponto percentual em relação ao mês anterior e um salto na comparação com os 58,9% do fim do ano passado. Ou seja, foram 6,4 pontos de crescimento só em 2015.
Gasto com juros sobe 99%
Especialistas destacam que a despesa do governo com juros é alarmante. O pagamento de juros nominais bateu mais um recorde no acumulado do ano. Entre janeiro e julho, a conta com juros somou R$ 338 bilhões, uma alta de 99% em relação ao mesmo período do ano passado. Só com os swaps cambiais, as operações que o BC vem fazendo para proteger as empresas das oscilações do câmbio, as perdas acumuladas até agosto chegam a R$ 74 bilhões, destaca o economistachefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Em agosto, as despesas com juros foram de R$ 49,7 bilhões, e, em 12 meses, chegam a R$ 484,4 bilhões, ou 8,45% do PIB. O especialista explica que o resultado ruim das contas públicas é reflexo da alta da taxa básica de juros ( Selic), que afeta os títulos pós- fixados; da liberação de preços que estavam contidos pelo governo, como os administrados; e da inflação alta, que também eleva o pagamento de títulos indexados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA).
— Além disso, o dólar estressou muito e bateu nos swaps. Esses motivos fazem com que o pagamento de juros nominais suba de forma muito forte. A boa notícia é que, no ano que vem, o dólar tende a não disparar tanto. Ele vai continuar alto, mas vai subir menos. Além disso, a inflação tende a convergir para a meta — disse Perfeito.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, endossa essa explicação, sobretudo em relação às perdas com o swap cambial, instrumento que equivale a uma venda de moeda americana no mercado futuro, a fim de oferecer um hedge ( ou seja, proteção) contra a oscilação do câmbio. Em setembro, até o último dia 25, a perda era de R$ 44,9 bilhões.
— Mas não só as operações de swap. A inflação e a própria taxa básica de juros ( hoje em 14,25%) ajudam a explicar esse aumento expressivo — disse.
O relatório do BC mostra também que os estados, apesar da crise, ainda estão com as contas positivas. Em agosto, registraram superávit de R$ 226 milhões. No acumulado do ano, o resultado está positivo em R$ 13,8 bilhões para estados e em R$ 15,9 bilhões para governos regionais no total ( estados e municípios).
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