• Dilma mirou o processo de impeachment já em curso na Câmara, que pretende barrar no nascedouro, mas a situação objetiva do governo é a pior possível
- Correio Braziliense
A reforma ministerial anunciada pela presidente Dilma Rousseff é apenas um arranjo político com o objetivo de gerenciar a crise política e ética que ameaça o seu mandato. Dilma entregou a cabeça do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, às bancadas do PT e do PMDB, e pôs no seu lugar o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, que deixa o Ministério da Defesa. Desde a eleição, era o nome favorito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo. Aldo Rebelo (PCdoB), deixa o Ministério da Ciência e Tecnologia e vai para o Defesa.
Mercadante caiu por causa das suas idiossincrasias, mas a oposição se armou contra ele, inclusive de parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque se comportou como provável candidato de Dilma Rousseff em 2018. O petista nunca foi muito popular entre seus colegas de parlamento, a ponto de o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), seu desafeto desde os tempos do Senado, até hoje brincar com os colegas que não o cumprimentam comparando-os ao petista: “Bom dia, Mercadante!”
Suceder Dilma não passou de um sonho de verão, literalmente. Quando o governo desceu a ladeira, Mercadante foi junto. Wagner foi um governador bem-sucedido na Bahia, fez o sucessor e deu à presidente Dilma a maior diferença de votos no primeiro turno. Afável, conciliador, amigo de Lula, supostamente seria o homem certo no lugar certo para evitar que Dilma Rousseff seja apeada do poder. Mas, para isso, a presidente da República precisaria virar uma espécie de rainha da Inglaterra. O que não é seu perfil.
Dilma entregou a Secretaria-Geral da Presidência para Ricardo Berzoini, que deixa o Ministério das Comunicações para centralizar as articulações políticas e as relações com os movimentos sociais, coadjuvado por Giles Azevedo, o único homem de sua estrita confiança que restou no Palácio do Planalto. A pasta passará a se chamar Secretaria de Governo. O ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, mantido no cargo para não perder o foro privilegiado — como Mercadante, também é investigado pela Operação Lava-Jato — é um ministro ligado ao ex-presidente Lula. Montou-se no Palácio do Planalto um gabinete de gestão de crise.
Renato Janine Ribeiro, da Educação, e Arthur Chioro, na Saúde, dois técnicos do PT, provaram do gosto amargo das decepções políticas. Foram defenestrados para acomodar, respectivamente, Mercadante e um deputado do PMDB, que indicou três nomes para a pasta: Marcelo Castro (PI), Manoel Junior (PB) e Saraiva Felipe (MG). A troca simboliza o verdadeiro caráter da reforma: não tem nenhum compromisso com a qualidade da gestão, o importante são os votos para barrar o impeachment. Saúde e Educação estão prisioneiras dos grupos econômicos envolvidos nas duas áreas e dos interesses de suas respectivas corporações profissionais.
Desaprovação geral
Dilma mirou o processo de impeachment já em curso na Câmara, que pretende barrar no nascedouro, mas a situação objetiva do governo é a pior possível. A pesquisa do Ibope/CNI divulgada ontem mostra uma situação dramática em relação à sociedade. A maneira de governar da presidente é aprovada por 14% e rejeitada por 82%. A confiança em Dilma também é baixa, 20%; o índice dos que não confiam na presidente é de 77%. Além disso, 82% dos entrevistados avaliam que o segundo mandato da presidente é pior que o primeiro. Somente 3% pensam o contrário.
Em relação ao futuro, 63% têm uma perspectiva negativa. Somente 11% acreditam que a gestão irá melhorar. Entre os entrevistados, 90% desaprovam a atuação do governo na área de impostos e 89% estão insatisfeitos com as ações relativas à taxa de juros. As medidas nas áreas de segurança pública (82%), saúde (84%), educação (73%), combate à inflação (83%) e combate ao desemprego (83%) também são reprovadas pela ampla maioria. Embora as ações do governo nas áreas de combate à fome e à pobreza registrem o maior índice positivo (29%), ele é bastante inferior a 2012, quando registrava 64% de aprovação. Seu índice negativo é hoje de 68%.
Ontem, Dilma Rousseff tentou atrair o PSB de volta ao governo, oferecendo-lhe a pasta da Ciência e Tecnologia. Levou um não dos governadores Paulo Câmara (Pernambuco), Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal) e Ricardo Coutinho (Paraíba). A colaboração será restrita à manutenção dos vetos presidenciais e contra as chamadas “pautas-bomba”, que ameaçam inviabilizar o pacote fiscal do governo federal. As bancadas da Câmara e do Senado querem distância do Palácio do Planalto.
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