Marina Dias, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em uma operação que conta com o apoio do Palácio do Planalto, setores do PMDB articulam adiar para março o encontro do partido no qual o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deseja assistir ao desembarque oficial da sigla do governo Dilma Rousseff.
O PMDB pretendia fazer neste ano um encontro extraordinário para discutir os rumos do partido, meses antes da convenção nacional da sigla, marcada para março.
No entanto, sem a chancela do vice-presidente Michel Temer, presidente nacional do partido, parlamentares e ministros da ala governista do PMDB insistem para que o encontro seja único, em março do ano que vem, para que o Planalto ganhe tempo para recompor a relação com os partidos aliados.
Além disso, defendem os peemedebistas alinhados a Dilma, o partido pode aguardar as decisões sobre Cunha que, acusado de ter se beneficiado do esquema de corrupção na Petrobras, pode sair da presidência da Câmara ou até mesmo ter seu mandato de deputado cassado.
Enquanto isso, Eduardo Cunha repete publicamente que ainda tem o poder de deferir ou não pedidos de abertura de um processo de impeachment contra Dilma.
Assim como o presidente da Câmara, o grupo comandado por Moreira Franco, aliado de Temer e presidente da Fundação Ulysses Guimarães, ligada ao PMDB, também prefere que o encontro não passe do próximo mês.
Ele defende que o partido tome uma posição firme sobre o futuro político do país, apresentando, inclusive, programa de governo e candidato próprio para a disputa presidencial de 2018.
Temer, por sua vez, se comprometeu com deputados da sigla a realizar o encontro em novembro e, segundo aliados, não deve interferir nas negociações para uma nova data.
Em agosto, Cunha já havia reclamado do primeiro adiamento da reunião extraoficial, que estava prevista para aquele mês. Segundo o presidente da Câmara, o partido estava "empurrando com a barriga" a discussão sobre a permanência no governo.
Sem decisão
Apesar da queda de braço dentro do PMDB, os dois grupos concordam em um ponto: independentemente da data marcada, não deve haver resolução oficial sobre a saída do partido do governo no encontro, que teria poderes apenas para sinalizar a tendência da sigla, mas não tirar uma posição definitiva.
Aliados de Temer dizem que, apesar de não ter poder deliberativo, "o tom de grande parte dos discursos" deve ser nesse sentido, de abandono da base de Dilma.
A discussão chegou aos principais interlocutores de Dilma, que comemoram um possível fôlego diante da crise política e econômica do país.
A avaliação de ministros e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de que o PMDB é a principal garantia de governabilidade da presidente e que um desembarque do partido do governo seria determinante para que ela perdesse a capacidade de se articular e votar projetos de seu interesse no Congresso.
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