A presidente Dilma Rousseff (PT) começou a semana com um rompante de assertividade que, de modo incomum quando se trata dela, a muitos pareceu bem colocado. Sob fogo de seu próprio partido, defendeu a política econômica do governo e assegurou com ênfase que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, continuará no cargo.
Além dos costumeiros boatos de sexta-feira, adicionara calorias à fritura de Levy a entrevista do presidente do PT, Rui Falcão, publicada domingo (18) nesta Folha.
Sem sutileza, Falcão advogou o abandono do esforço de austeridade orçamentária –de escasso efeito até aqui, admita-se– e prescreveu a demissão do ministro.
"Acho que ela [Dilma] vai determinar a liberação de crédito com responsabilidade", disse o petista. E foi entendido como entregador de um recado do próprio ex-presidente Lula: "Se o Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído".
Num governo de coalizão tão ampla e descosida, não chega a suscitar surpresa que haja divergências entre a chefe do Executivo e uma agremiação que lhe dá apoio. Ainda que seja seu partido de filiação, compreende-se que persigam objetivos diversos.
Dilma e o PT defrontam-se com imperativos incongruentes, quando não conflitantes. No campo da economia, a presidente não tem como escapar de um ajuste profundo nas contas públicas para desmontar as armadilhas que as irresponsabilidades de seu primeiro mandato legaram ao segundo.
Na seara política, rendeu-se ao PMDB na expectativa incerta de reverter votos a favor de seu impeachment. Ocorre que este último objetivo contradiz o primeiro (equilibrar receitas e despesas), pois até o mármore do Planalto sabe que peemedebistas não batalham por cargos e verbas só por esporte.
Enquanto o PMDB alveja o ajuste fiscal em plenário e nos ministérios, o PT lulista lança-lhe granadas desde São Bernardo do Campo.
O cálculo do ex-presidente é eleitoral: sabe que seu partido caminha para um revés no pleito municipal de 2016 e que só um novo saque a descoberto no Tesouro, para tentar aquecer artificialmente a atividade econômica, traria algum alento em 2018.
Em meio a tanta artilharia, a permanência de Levy no ministério se converteu numa das poucas âncoras a distanciar Dilma e a economia de uma queda livre.
Por instinto de sobrevivência ou raro lampejo de perspicácia política, a presidente abraçou-se a ele e ao tímido aperto nas contas logrado até aqui, ainda que não rezem pelo mesmo credo.
Dilma Rousseff, ao menos por ora, repeliu a tutela que o PT de Lula quer lhe impor. Joaquim Levy fica. Para a sorte de todos, desta vez seu vezo autocrático coincide com o que é melhor para o país.
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