Por André Ramalho, Rodrigo Polito, Camila Maia, Bruno Peres e Andrea Jubé – Valor Econômico
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Governo e mercado financeiro começaram a manifestar preocupação com os rumos da paralisação dos empregados da Petrobras. O assunto foi a pauta central dos relatórios de ontem dos principais bancos de investimento, que advertem para impacto do movimento grevista na execução do plano de venda de ativos da estatal e sobre sua capacidade de fazer caixa. Após forte alta na terça-feira, as ações preferenciais da Petrobras caíram 4,71% ontem e as ordinárias, 6,34%.
A presidente Dilma Rousseff pediu a seus auxiliares que tentem se antecipar aos impactos da greve dos petroleiros, que têm entre suas reivindicações a suspensão da venda de ativos da Petrobras. O governo pretende alinhar um discurso para convencer os funcionários de que as vendas não representam dilapidação de patrimônio, mas operações que podem até ser revertidas no futuro. Dilma deixou claro que o governo não pretende voltar atrás na decisão de vender ativos.
O assunto foi debatido, na terça-feira, na reunião de coordenação política do governo, na qual manifestou-se também preocupação com a possível greve dos caminhoneiros, anunciada para a próxima semana, pelo efeito que pode ter no abastecimento da população. A ideia é mobilizar a Advocacia-Geral da União e a Polícia Rodoviária Federal para impedir a interrupção do tráfego em rodovias.
Segundo relatório divulgado pelo Banco HSBC, a paralisação compromete mais a venda de ativos e a capacidade de financiamento da Petrobras do que a produção. A companhia precisa levantar de US$ 79 bilhões entre 2016 e 2019 para reduzir sua dívida.
O Bank of America Merrill Lynch considera que um dos riscos da greve é que a Petrobras demore a recuperar os níveis anteriores de produção após as paralisações nas plataformas. A Brasil Plural calcula que a interrupção da produção deve provocar uma perda diária de receita entre US$ 15 milhões e US$ 18 milhões.
Segundo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, até agora 47 unidades marítimas - incluindo plataformas, sondas e unidades de manutenção e serviço - aderiram à greve. Entre as plataformas, 28 já estariam com a produção totalmente parada. Em nota, a estatal admitiu uma queda de 6,5% na produção ontem, equivalente a 140 mil barris de petróleo, devido à paralisação.
Venda de ativos da Petrobras sob risco
• Endividamento alto e preços baixos do petróleo tornam mais difícil achar um acordo com os petroleiros
A greve dos petroleiros ameaça impactar não só a geração de receitas da Petrobras, como promete tornar ainda mais desafiadora a execução do plano de venda de ativos da companhia. Um dia após a estatal admitir que a paralisação nas plataformas derrubou a produção de petróleo, o mercado começou a manifestar oficialmente, ontem, preocupações com os rumos do movimento grevista e com a capacidade da petroleira de levantar caixa.
O assunto foi a pauta central dos relatórios dos principais bancos de investimento. Na Bovespa, as ações preferenciais da Petrobras caíram 4,7% e as ordinárias recuaram 6,3%, após alta na terça-feira.
Segundo o HSBC, a paralisação compromete mais a venda de ativos e a capacidade de financiamento da empresa do que a produção em si. Notícia preocupante para uma companhia que precisa levantar recursos da ordem de US$ 79 bilhões entre 2016 e 2019 para reduzir sua alavancagem, de acordo com estimativas do J.P.Morgan. Só em 2016, segundo o banco, a estatal precisaria de US$ 6 bilhões.
Para o Brasil Plural, a greve confirma as dificuldades que a administração da estatal está enfrentando para implementar as mudanças necessárias na gestão da companhia e indica que a petroleira deve enfrentar, a partir de agora, mais resistência de seus funcionários na execução do plano de venda de ativos.
"Vemos a razão da greve como particularmente preocupante, já que o principal pleito do sindicato é nada menos que a suspensão do plano de desinvestimentos, um fator crítico para a recuperação financeira da companhia, sem espaço para uma negociação por parte da administração", afirmou o analista Caio Carvalhal, em comentário enviado a investidores.
O Bank of America Merrill Lynch destaca que a capacidade da estatal de chegar a um acordo rápido é limitada. "Neste ano, a difícil combinação da queda acentuada dos preços do petróleo, do acesso limitado ao mercado financeiro e da carga muito pesada da dívida da empresa é suscetível de limitar a sua capacidade de chegar a uma solução fácil com os sindicatos", diz o BofA, em relatório assinado por Anne Milne e Juan Andres Duzevic.
A resistência dos grevistas, ainda segundo o BofA, é mais um "difícil desafio" para a execução da venda de ativos, considerada pelos analistas como "crítica" para a restauração da capacidade financeira da companhia.
O BofA avalia, ainda, que um dos maiores riscos da greve é que a Petrobras demore a recuperar os níveis anteriores de produção após a interrupção das plataformas. "Uma vez que a produção é parada, o risco é que leve vários meses para trazer de volta aos níveis anteriores [à greve]", cita o relatório.
De acordo com o Brasil Plural, a greve deve ter um efeito negativo diário de US$ 15 milhões a US$ 18 milhões nas receitas da Petrobras, enquanto a produção mensal doméstica de petróleo deve cair cerca de 0,6% a cada dia de paralisação. Já para o HSBC, o corte de 13% da produção nacional de petróleo da Petrobras, devido à greve, pode gerar um custo mensal de US$ 196 milhões a US$ 315 milhões.
Ontem à noite, a Petrobras informou uma queda de produção de 140 mil barris, o que equivale a 6,5% do volume diário produzido antes da greve.
Segundo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, 47 unidades marítimas (entre plataformas, sondas e unidades de manutenção) aderiram à greve e 28 plataformas estão totalmente paradas. Os petroleiros iniciaram o movimento no domingo por tempo indeterminado. De acordo com comunicado da Federação Única dos Petroleiros (FUP) veiculado na ocasião, a greve foi determinada após representantes da Petrobras não comparecerem à audiência com o Ministério Público do Trabalho, a FUP e sindicatos, realizada na quinta-feira passada, no Rio de Janeiro. Entre os pleitos da categoria está a suspensão do plano de venda de ativos da companhia.
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