A indústria caiu mais um mês. Quando se compara com o setembro de 2014, o encolhimento foi de 10,9%. Dos 24 setores, apenas dois cresceram. A indústria está em crise estrutural e conjuntural.
Contudo, esta pode ser uma época movimentada, de oportunidades e de reestruturações. Chegar a uma recessão já enfraquecido é péssimo, mas há chances abertas para quem se preparou.
Há empresas no Brasil e no exterior capitalizadas e dispostas a fazer boas prospecções em todos os setores. Os próximos dois anos podem ser de compras como aconteceu esta semana, quando a francesa Coty fez uma proposta para adquirir a divisão de beleza da Hypermarcas. A empresa brasileira, depois da venda, vai se reestruturar, reduzir alavancagem e se concentrar no segmento de remédios. Já a Coty terá muitas razões para investir aqui porque este é um mercado dinâmico, que cresceu acima do PIB brasileiro nos últimos anos, e cujo volume de vendas está nos primeiros lugares do mundo. O mercado sempre cresceu sem que o BNDES escolhesse um fabricante para ser o campeão nacional.
Aliás, a crise que atingiu o BNDES, que está com menos dinheiro para emprestar e sem condições políticas de continuar com a sua desastrada estratégia de campeões nacionais, fará com que algumas das antigas escolhidas tenham dificuldades. Por outro lado, empresas capitalizadas e com bons projetos de crescimento em seus setores podem conduzir naturalmente o processo de consolidação.
Na Invistia, consultoria de fusões e aquisições, o movimento aumentou a partir de abril, quando o mercado percebeu que a turbulência se estenderia.
— Em momentos assim, empresas com pouco fôlego passam a considerar a venda de ativos. E quem tinha um plano agressivo de crescimento se interessa em comprar. É uma forma de atingir as metas mesmo com a economia fraca. Períodos muito alongados de crise não são bons. Mas, se há aperspectiva de recuperação, o mercado se agita —, conta Alexandre Kazuki, sócio da Invistia.
O número de clientes hoje já está 10% acima do que a Invistia teve em 2014. Cerca de 80% dos mandatos são de venda de ativos o que, não necessariamente, é algo negativo. Quem vende, explica Kazuki, pode usar o recurso para crescer em outros segmentos. É uma opção interessante neste momento de crédito mais caro.
— A alta do câmbio incentiva as operações de compra. Mas ela tem dois lados. Os ativos estão mais baratos em real, mas o retorno em dólar será menor. O momento do câmbio é bom para aquelas empresas que querem entrar no país para se estabelecer, com visão de longo prazo. Para isso, é preciso confiar que a economia brasileira vai se recuperar —, explica Kazuki.
Crise não significa a paralisação completa; muitos fatos acontecem, muitas fusões, aquisições e reorganizações de mercado. Isso que os economistas e o mundo corporativo chamam de “consolidação” vai movimentar a economia brasileira nestes anos de queda do produto e do consumo.
— Uma grande consolidação sempre é boa para o sistema econômico porque aumenta a produtividade — diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.
Deve aumentar também, neste período de crise interna e dólar alto, o comércio entre companhias estrangeiras. José Roberto Mendonça de Barros chama a atenção para o fato de que deve crescer o comércio intrafirma das multinacionais no Brasil.
— Empresas estrangeiras já estão fazendo o movimento de reorganizar a produção no Brasil para fornecer a outros mercados diante da queda do consumo e do custo menor, pela alta do dólar. Aqui há fábricas de boa qualidade e esse mecanismo intrafirmas sempre é omais rápido em épocas de crise — diz o economista.
Hoje, o quadro na indústria é devastador. O setor está com problemas no mundo inteiro, mas é mais grave no Brasil porque a política industrial, de favorecimento de algumas empresas e segmentos, foi um erro. Se a economia sair dessa crise menos dependente do estado, mais ligada ao resto do mundo, mais competitiva, com grupos empresariais mais bem estruturados será um ganho. É ainda a hora do mergulho e vai demorar para que o país em geral, e a indústria em particular, volte a crescer. Mas a economia pode aproveitar até a crise e se reestruturar para ficar mais competitiva e produtiva.
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