- O Estado de S. Paulo
Há uma mudança radical em curso na política brasileira. Ela ainda não se verificou nas urnas e, por isso, deve ser tratada como hipótese a ser provada. Mas todas as pesquisas de opinião mostram que a polarização PT x anti-PT não é mais o único campo no qual se luta pelo poder no Brasil. A nova arena eleitoral terá mais e novos atores disputando o papel de protagonista que antes era reservado necessariamente a um petista. A eleição de 2016 porá a hipótese à prova, com chances de elevá-la a tese.
Duas novas pesquisas – uma delas revelada aqui em primeira mão – reforçam essa suspeita. Segundo levantamento inédito do Ibope, apenas 12% dos eleitores brasileiros declaram-se hoje simpatizantes do PT. É a mais baixa taxa de petismo verificada pelo instituto desde 1989. Perante a opinião pública, o partido regrediu para onde estava antes de protagonizar a primeira de sete eleições presidenciais consecutivas. Com sérios agravantes.
Segundo o Ibope, 70% dos brasileiros revelam hoje uma opinião mais negativa do que positiva sobre o PT. Em apenas um ano, quem tem uma imagem “muito desfavorável” do partido triplicou de 11% para 30%, e os que declaram que ela é “desfavorável” (sem o “muito”) foram de 35% para 40%. Entre outubros de 2014 e 2015, a visão “muito favorável” ao PT caiu de 7% para 3%, e a “favorável” despencou de 34% para 20%. O restante não respondeu.
De quebra, o PT perdeu a exclusividade como partido mais lembrado. Com seus 12%, está tecnicamente empatado com PMDB e PSDB, ambos com 10% de simpatizantes declarados ao Ibope. Apesar de terem chegado aos dois dígitos, os tucanos não têm muito a comemorar. Desde 2014, cresceu a sua impopularidade. As opiniões desfavoráveis ao PSDB aumentaram de 45% para 50%, enquanto as favoráveis caíram de 36% para 31% (além de 19% sem resposta).
O PT não acabou nem vai acabar. Porém, após 25 anos de ascensão contínua, o partido entrou em rápida decadência. Todas as tensões acumuladas ao longo de 13 anos de domínio federal foram liberadas de uma vez só. Os últimos grãos de areia que provocaram a avalanche de impopularidade foram a Lava Jato e a crise econômica. Soterrado, o PT é mais uma das siglas na sopa de letrinhas partidárias.
Os petistas argumentam que ainda não perderam uma eleição importante. Mas o histórico sobre preferência partidária do Ibope somado à mais recente pesquisa eleitoral do Datafolha em São Paulo mostram que isso parece ser questão de tempo.
Os meros 12% de intenção de voto do prefeito petista Fernando Haddad não são tão surpreendentes quanto o perfil de quem está declarando voto nele – e o de quem não está. Desde 1988, o PT só ganha eleição em São Paulo quando consegue a maioria dos votos na periferia pobre da cidade. Haddad, entretanto, vai três vezes melhor entre os mais ricos do que entre os mais pobres.
Perdeu a periferia para Celso Russomanno (disparado com 34%) e para Marta Suplicy (13%). Nem mesmo dentre os cada vez mais raros paulistanos que se declaram simpatizantes do PT, reduzidos a 11%, Haddad consegue superar Russomanno e Marta. Tem 22% entre eles, contra 33% e 25%, respectivamente. A ex-prefeita não terá os votos de seus vizinhos nos Jardins e outros bairros ricos. Mas subtrai eleitores pobres que elegeram Haddad em 2012.
Mesmo assim, não é impossível que o atual prefeito se reeleja. No 1.º turno, basta que ele fique em segundo lugar (onde, tecnicamente, já está). No 2.º, como de hábito, o paulistano escolherá o menos pior. Quem tiver menos rejeição leva. Com Russomanno, Haddad, Marta e companhia, será uma loteria.
A testar nas urnas, o que Datafolha e Ibope sugerem é que cada vez menos eleições no Brasil continuarão sendo um embate do PT contra a rapa. Muito menos um duelo entre petistas e tucanos. Novas metáforas virão.
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