Estropiado por denúncias de corrupção e pelo desgoverno da presidente Dilma Rousseff, o PT pretende usar os palanques municipais em 2016 para tentar salvar o pouco que resta da outrora glamourosa imagem do partido. Nesse cenário de terra arrasada, os petistas acham que uma vitória em São Paulo, com a reeleição de Fernando Haddad, é crucial. “Se ganharmos em São Paulo, ganhamos a eleição”, resumiu o ex-presidente Lula num encontro do partido em setembro passado. Com isso, o chefão petista quer dizer que um eventual triunfo de Haddad, dadas as condições muito adversas que o partido e o prefeito enfrentam, será suficiente para compensar as previsíveis derrotas País afora.
Para que essa estratégia funcione, o Politburo lulista espera que Haddad seja mais petista do que nunca, isto é, que ele suba no palanque vestindo figurino completo de militante – com estrelinha e tudo – para dizer, contra todas as evidências, que o PT ainda merece a confiança dos eleitores. É isso, aliás, o que a direção do partido espera de todos os seus candidatos em 2016. O PT terá o maior número possível de postulantes para que participem dos debates eleitorais e, neles, defendam a legenda com unhas e dentes, mesmo que isso reduza ainda mais as já escassas chances de vitória. O que interessa, de acordo com essa visão, é combater o sentimento antipetista para tentar melhorar o cenário para a disputa presidencial em 2018.
O caso de Haddad, no entanto, constitui um desafio e tanto para o plano petista de salvação da lavoura. Em primeiro lugar, é preciso constatar o óbvio: poucas vezes São Paulo foi administrada por alguém que trata uma parte da população tão acintosamente como inimiga. Ele considera rematados selvagens aqueles que ousam discordar de sua política destrambelhada de pintar faixas para ônibus e bicicletas sem nenhum planejamento. Para Haddad, o transporte coletivo e os ciclistas seriam símbolos de uma certa “modernidade”, enquanto os carros e seus motoristas representariam o atraso. Mais de uma vez, o prefeito declarou-se um “agente da civilização contra a barbárie”.
Não bastasse a sua arrogância, Haddad é também um mau administrador. Vivendo à base de factoides, o prefeito, que se apresentou na campanha eleitoral como “um homem novo para um tempo novo” e que prometia “um projeto revolucionário para o futuro”, deixou especialmente desatendida a população mais pobre. Com sua atenção voltada basicamente para a Avenida Paulista, Haddad esqueceu-se ou foi incapaz de dar conta de inúmeras outras demandas da cidade, e isso se reflete nas pesquisas de opinião: segundo o Datafolha, o prefeito é reprovado por nada menos que 49% dos paulistanos. Entre os mais pobres, Haddad é aprovado por apenas 12%, ante 23% entre os mais ricos. Tal diferença explica quais são as prioridades do prefeito.
Por fim, mas não menos importante, Haddad é mal avaliado porque é petista. Vincular-se ao PT, hoje, é receita certa para fracassar nas urnas, razão pela qual o partido vem registrando uma crescente debandada de políticos que pretendem ter alguma chance na eleição do ano que vem. Haddad mesmo cogitou da possibilidade de migrar para o Rede, de Marina Silva, mas parece que, por ora, decidiu ficar onde está – afinal, ele tem uma dívida com Lula, que o inventou como “poste” em 2012.
Isso não significa que Haddad pretende subir no palanque como petista. Ao contrário: consta que o prefeito planeja esconder o PT e Dilma durante a campanha, pois em São Paulo a rejeição a ambos é imensa. Assim, o PT e Haddad encontram-se numa sinuca de bico: o partido vai jogar todas as suas fichas numa vitória do prefeito na esperança de dar algum sinal de vida, mas a única chance de Haddad de superar a hostilidade dos paulistanos e se reeleger é repelir a legenda à qual está filiado desde 1983. É uma embrulhada e tanto, que resume a falta de perspectivas de um partido cujos líderes julgavam-se capazes até de fazer chover, mas que, hoje, se limitam a tentar salvar o sofá e a geladeira da enchente.
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