- O Estado de S. Paulo
O pessimismo dos brasileiros é o dobro de outros terráqueos. Na média mundial, 16% apostam que 2016 será pior do que 2015. No Brasil, a parcela pessimista chega a 32%. Não somos um Iraque, onde 56% da população acha que tudo vai piorar, mas tampouco estamos em guerra. Os dados são de pesquisa feita pela rede WIN em 68 países, a ser divulgada nesta segunda. Aqui, a sondagem foi conduzida pelo Ibope. A coluna antecipa alguns resultados.
Como no Brasil ainda prefere-se o Carnaval ao ISIS, e homem-bomba é apenas uma expressão reservada a delatores premiados, a fatia de otimistas continua sendo a maior do bolo nacional: 50% esperam um 2016 melhor do que foi 2015. É mais do que nos EUA (36%) e em outros 51 países, diria Pollyanna. Mas está pouco abaixo da média mundial (54%), que é puxada pelos novos campeões do otimismo: China (76%), Nigéria (78%) e Bangladesh (81%).
Outros 13% de brasileiros acham que tudo vai ficar como está, e o resto não soube ou não quis responder a pergunta do Ibope.
Se na comparação internacional o Brasil deixou de ser um dos países mais otimistas do mundo, é indisfarçável o rápido crescimento do pessimismo tupiniquim ao longo tempo. Seis anos atrás, só 6% dos brasileiros acreditavam que 2011 seria pior, enquanto 73% achavam que seria um ano ainda melhor do que 2010 já havia sido.
Desde então, os pessimistas passaram para 8% (em 2011 e 2012), cresceram para 14% em 2013, pularam para 26% em 2014 e chegaram a inéditos 32% no final do ano passado.
Ao mesmo tempo, os otimistas saíram do patamar chinês (acima de 70%) de 2010 a 2012, para 57% em 2013, 49% em 2014 e 50% em 2015. Então o otimismo parou de cair? Em termos absolutos, sim. Mas, proporcionalmente ao pessimismo, ficou menor.
As causas dessa súbita mudança de humor dos brasileiros devem ser mais bem explicadas pelos demais itens da pesquisa a serem divulgados nesta segunda, mas não é preciso ser clarividente para saber que o problema é a economia do País.
Nesse período, a curva de ascensão social da maioria da população foi perdendo força até inverter sua trajetória. Gente que estava melhorando no começo da década está, agora, andando para trás.
Isso fica claro em um dos cruzamentos da pesquisas Ibope. No final de 2014, as classes de consumo A+B somavam 30% da população. Um ano depois, seu peso caiu para 23%. No mesmo período, a classe C emagreceu de 54% para 50%, e as classes D+E voltaram a engrossar o estrato mais baixo e vulnerável. De 16% da população em 2014, passaram a representar 27% em 2015.
Essa movimentação significa que em apenas um ano, cerca de 7% dos brasileiros caíram do topo para o meio da pirâmide de consumo, e 11% escorregaram do miolo de volta para a base da estrutura. Em outras palavras, cerca de 1 em cada 5 brasileiros sofreu uma perda de poder de consumo grande o suficiente para mudar de classe. Visto dessa perspectiva, o aumento de seis pontos do pessimismo dos brasileiros até que foi pequeno.
É como se apenas 1 em cada 3 dos que perderam status social ao longo de 2015 tivesse traduzido esse passo atrás em mais pessimismo. Há duas maneiras de interpretar esses números.
Na perspectiva do copo meio cheio, pode-se dizer que o brasileiro é, antes de tudo, um otimista, porque mesmo sofrendo revezes de renda e eventualmente perdendo o emprego ele ainda assim continua a acreditar em um futuro melhor.
Na perspectiva do copo meio vazio, pode-se projetar que o desastre de opinião pública é questão de tempo. Quando os outros dois terços que andaram para trás em 2015 perceberem que não estão conseguindo recuperar o terreno perdido, também devem aderir ao pessimismo, e a onda de mau humor crescerá mais.
Se esta última interpretação estiver correta, o Brasil deve continuar caindo no ranking mundial do otimismo em 2016.
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