- Folha de S. Paulo
A lendária rainha Sherazade bolou uma técnica eficaz de salvar a própria pele. Encantava o sanguinário rei com uma história fantástica e a promessa de que na noite seguinte haveria mais.
Quem não tem Sherazade vai de Berzoini. O ministro palaciano parece o encarregado no governo Dilma de passar a conversa no PT e assim evitar que o partido pratique seus instintos de destruição.
A fantasia da vez recomenda ao Executivo a venda de seus dólares mantidos no exterior, nas chamadas reservas internacionais, para tocar obras no Brasil.
O dinheiro tem o poder de enfeitiçar, não é de hoje, as esquerdas. As fascinantes reservas internacionais não existem como moeda disponível. Os quase US$ 370 bilhões correspondem a uma pilha de dívida pública, em reais, que foi acumulada para comprar e manter esses dólares.
Imagine-se que a lei passe a autorizar e o governo venda divisas para elevar seu gasto na infraestrutura. A mesma dívida pública que sustenta as reservas irá avalizar uma despesa orçamentária. Se a opção for emprestar o dinheiro via bancos estatais, a mesma dívida passará a financiar novas operações de crédito.
Nos dois casos, reduz-se a proteção do país contra tormentas cambiais sem nem ao menos obter-se o bônus de abater a dívida interna. Amplia-se a vulnerabilidade externa sem diminuir a debilidade fiscal.
Enquanto Berzoini mantém o petismo inerte, trava-se na vigília de outros setores governistas um debate sobre o que fazer do mix de proteção cambial em vigor. Seria o caso de reduzir o nível de reservas internacionais e em contrapartida desendividar o governo? Faz sentido manter as operações para segurar o real no mercado de derivativos, as quais custam uma fábula ao setor público?
A China convulsionada e a Petrobras de volta à UTI, porém, vão provavelmente adiar qualquer mudança nessa política.
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