- O Tempo (MG)
O novo ano começa sob alguns signos. O primeiro deles é o signo do impasse, resultante do adiamento para o final de março do debate em torno da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Até lá, a discussão será jurídica, na expectativa de que o Supremo Tribunal Federal (STF) defina as muitas dúvidas que pairam sobre o tema.
Ainda na esfera jurídica, veremos os movimentos destinados a afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara, tema de interesse estratégico para o governo por envolver o impeachment. Cunha terá que se defender no início de fevereiro, logo após o Carnaval.
Nesse momento, também serão escolhidos os novos líderes dos partidos, o que terá repercussão direta na escolha dos membros da comissão que debaterá o impeachment. Já em março, o PMDB definirá se rompe ou não com o governo, e esta é mais uma decisão que interfere no andamento do processo de impeachment.
Os impasses do primeiro trimestre revelam a força do fenômeno da “judicialização” da política brasileira, outro signo destes tempos, caracterizado pelo papel central do STF nas decisões que afetarão os demais Poderes. Nos próximos meses, o Supremo vai ampliar o número de processados na operação Lava Jato; decidir se afasta ou não Eduardo Cunha; e definir os procedimentos essenciais para a tramitação do impeachment. Nesse contexto, ganhará importância o debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a eleição de 2014.
O outro signo do início do ano é a ampliação das fronteiras da operação Lava Jato. Novos nomes foram incluídos no rol de investigados. Outros, já mencionados, retornaram em novas tramas. O PSDB voltou a ser chamuscado com a informação de que um ex-presidente do partido, o falecido deputado Sérgio Guerra, recebeu R$ 10 milhões para fazer corpo mole na CPI da Petrobras do Senado, ocorrida em 2009.
Na esfera do governo, preocupa a menção ao ministro Jaques Wagner em conexão com antigas doações de empresas relacionadas ao escândalo do petrolão. Preocupa também a já negociada delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, envolvido em supostas doações para políticos governistas.
Para esquentar ainda mais o ambiente, outros antigos implicados tiveram sua exposição aumentada. Eduardo Cunha, por exemplo, viu seus sigilos fiscal e bancário e os de sua esposa e filha serem quebrados pelo STF. O senador Edison Lobão (PMDB) também viveu idêntico constrangimento. Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo, foi mencionado em ligações com a empreiteira OAS.
Lula voltou a depor na investigação da operação Zelotes, e o ministro Edinho Silva, que já tinha sido mencionado em temas relacionados à Lava Jato, ganhou um “upgrade” em seu envolvimento ao ser novamente apontado como negociador de doações da OAS.
O quarto signo do ano é a questão da economia, que anda mal, e nada no cenário indica alguma melhora. O governo reage em câmera lenta a demandas e problemas que acontecem em alta velocidade. Faltam consistência na reação, confiança nas ações e, sobretudo, capacidade política para implementá-las. Mercado e empresários estão em compasso de espera, e a incerteza se reflete na volatilidade do câmbio e na paralisia de investimentos.
Os quatro signos apontados sugerem um quadro de muita volatilidade, no qual as tendências podem mudar rapidamente. Os contornos da política em 2016 não estão delimitados. Na prática, o segundo mandato de Dilma Rousseff não começou, e as dúvidas sobre se vai começar ainda são consistentes.
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