Já não eram promissoras, embora talvez inevitáveis na conjuntura, algumas das escolhas feitas pelo presidente interino Michel Temer (PMDB) para seu ministério.
A presença de personagens envolvidos em maior ou menor grau nas investigações da Operação Lava Jato sinalizou que a busca de imediata sustentação no Congresso superou, por parte de Temer, as preocupações com a regeneração ética do Executivo —tema tão importante na movimentação social em favor do impeachment.
O figurino parece repetir-se, de modo agravado, na indicação do deputado federal André Moura (PSC-SE) para o posto de líder do governo Temer na Câmara.
Fosse apenas a circunstância de ser tido como um dos principais auxiliares de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), talvez se pudesse dizer que, em breve, a influência dessa nefasta figura diminuirá por causa de seus problemas judiciais.
Todavia, não se torna necessário lembrar sua relação com o presidente afastado da Câmara dos Deputados para que o líder do novo governo ostente capacidade própria de contribuir para a desmoralização do ambiente parlamentar.
O deputado sergipano é réu em três ações penais no Supremo Tribunal Federal. Em uma delas, Moura enfrenta a acusação de utilizar para seu próprio conforto bens e serviços públicos da cidade de Pirambu, mesmo depois de encerrado seu mandato de prefeito.
Teriam sido custeados pelo contribuinte o uso de motoristas e as contas de celulares da mãe e da irmã do deputado. Gêneros alimentícios teriam sido entregues na residência de Moura, com despesas pagas pela municipalidade.
As denúncias, aceitas por unanimidade pela segunda turma do STF em 2015, seguem seu curso, tendo a defesa negado irregularidades.
Há ainda outros inquéritos no STF. Num deles, o nome de Moura é citado numa tentativa de assassinato; em outro, é ligado ao esquema de corrupção da Petrobras.
É demais, murmuram alguns partícipes da coalizão que se alçou ao poder federal. Deputados do DEM, do PPS e do PSDB manifestaram preferência por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para líder do governo.
Ao lado do PMDB, o chamado centrão (que congrega PP, PR, PTB, PSD, PRB e outros partidos) deu apoio ao parlamentar do PSC.
Michel Temer ficou com a maioria, forçando muito além do aceitável os limites da realpolitik. Quer minimizar arestas com o Legislativo, enquanto não se aprovam medidas urgentes na área econômica.
No campo da ética e da credibilidade, entretanto, o novo governo parece estar fabricando as armadilhas e os escândalos com que irá se defrontar num futuro próximo.
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