Por Leandra Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente interino Michel Temer (PMDB-SP) deve fazer um pronunciamento ou conceder entrevista para falar do estado das contas públicas. De acordo com integrantes do governo, a sugestão foi levada a ele por senadores, com quem Temer teve reunião ontem, e está sendo avaliada. A intenção do presidente interino é falar da "realidade" que o governo atual encontrou nas contas públicas após o afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Na prática, o governo Temer estará ressuscitando a tese da "herança maldita", amplamente usada pelo PT quando chegou ao governo em 2003 para descrever os resultados econômicos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Foi no primeiro ano do governo Lula que o ex-presidente conseguiu, por exemplo, mudar as regras de aposentadoria do setor público, além de fazer um superávit primário superior a 4,5% do PIB da época.
A sugestão é reforçar a mensagem de que o governo interino será obrigado a recorrer a medidas amargas para consertar os erros, especialmente econômicos, que foram se acumulando durante os mandatos da presidente Dilma Rousseff.
Do ponto de vista político, é um discurso que busca ganhar tempo e estender o período de lua-de-mel do presidente interino com o Congresso.
Do ponto de vista econômico, o ganho esperado seria um maior apoio à necessidade de reformas estruturais em função do peso que o apoio do próprio presidente interino trará ao diagnóstico feito pela equipe econômica.
Assessores do novo governo enxergam como uma vantagem significativa o fato de o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, estar livre para criticar a administração anterior, ao contrário da situação vivida pelo ex-ministro Joaquim Levy, no segundo mandato da presidente Dilma.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vem insistindo em suas entrevistas que o governo precisa fazer uma avaliação realista e transparente das contas públicas e só depois propor as medidas necessárias para melhorar a situação. A preocupação do ministro é não anunciar medidas e principalmente números que precisem ser revistos num segundo momento.
Ontem, Meirelles citou retrocessos em áreas como política fiscal, intervencionismo na economia e incerteza inflacionária e avanços no mercado consumidor e na situação cambial do país quando comparou sua passagem no governo Lula à situação atual.
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