terça-feira, 31 de maio de 2016

Presidente a reboque – Bernardo Mello Franco

Folha de S. Paulo

O governo Temer não completou três semanas e já sofreu a segunda baixa. Fabiano Silveira, o desconhecido ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, está fora da Esplanada. Voltará ao anonimato antes de ter saído dele.

O motivo da queda parece uma piada de mau gosto sobre a bagunça geral em Brasília: o ministro encarregado de combater a corrupção foi flagrado em conversas para melar a Lava Jato. Em áudios divulgados pela TV Globo, ele critica a operação e orienta o senador Renan Calheiros, seu padrinho político, a despistar os procuradores que o investigam.


Silveira ainda não era ministro, mas integrava o Conselho Nacional de Justiça. A função do órgão é fiscalizar o Judiciário, e não ajudar suspeitos a escapar das garras da lei.

O diálogo foi gravado por Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que assinou um acordo de delação premiada e se transformou no homem-bomba do governo interino. Ele já havia feito uma vítima na semana passada, quando Romero Jucá caiu do Ministério do Planejamento. O motivo foi outro grampo, no qual o senador defendia acelerar o impeachment para frear a Lava Jato.

A gravação do ministro da Transparência foi igualmente constrangedora para o presidente interino. Até a Transparência Internacional emitiu nota, direto de Berlim, cobrando que ele fosse defenestrado do cargo.

A diferença entre os dois episódios é que Temer, desta vez, tentou segurar o auxiliar. Não por apreço a ele, mas por medo de contrariar Renan, responsável por sua nomeação.

O Planalto chegou a dizer à imprensa que Silveira ficaria no cargo por decisão do presidente interino. No início da noite, foi surpreendido com a carta de demissão.

A queda do segundo ministro em 19 dias está longe de mostrar Temer como um líder enérgico e intolerante com desvios. Ao contrário: reforça a impressão de que o presidente está a reboque dos fatos —e das fitas. Quem será o alvo da próxima?

Nenhum comentário: