- Folha de S. Paulo
Impeachment não é convescote. Traumatiza, choca, exige respostas sensatas dos setores políticos responsáveis deste país.
Não me deixa feliz. Não chego a comemorá-lo. Não o confundo com Carnaval ou a festa folclórica de Parintins. Considero-o imprescindível, nesta quadra histórica, porque o governo do PT perdeu as condições de governabilidade.
Tendo a mais dramática crise econômica da história republicana deste país como pano de fundo, tudo leva a crer que, ao final do processo no Senado, Michel Temer será efetivado como presidente do país.
Temer não terá direito a uma espécie de lua de mel com o Brasil nas primeiras semanas do governo interino. Ele terá de acertar desde o início. Precisará agir, como o presidente argentino Mauricio Macri fez.
Ou seja, restabelecer a confiança externa e interna, nos planos econômico e político, no Brasil desacreditado de hoje. Necessitará negociar, com seus aliados de jornada, uma pauta de reformas estruturais capazes de resgatar o país do caos econômico que ora o avassala.
Refiro-me aos sistemas tributário, previdenciário, das leis trabalhistas, administrativo, político (é bizarra e nociva a existência de 28 partidos atuando no Parlamento). Terá de encarar ainda a atualização do sistema financeiro nacional, a começar pela autonomia, em lei, do Banco Central. Esta última medida, até os mercados a ela se habituarem, acrescentará, por cinco ou seis anos, algo como 0,5% ao nosso PIB.
Não é tarefa fácil. Reformas, que podem salvar a economia, certamente gerarão contrariedade e ativismo nos setores com elas descontentes. A nova oposição, que já se mostra dura e presente, buscará o reencontro com parte da população, negando as mudanças e indo às ruas contra elas.
Temer, então, precisará de apoio parlamentar e administrativo para obter êxito frente ao desafio. O PSDB não se furtou a fazer parte, nítida e decididamente, dessa tentativa de dar uma nova oportunidade ao Brasil -tanto com apoio parlamentar quanto cedendo quadros aos ministérios para a reconstrução da máquina pública inflada, paquidérmica e ineficaz.
Do governo interino, é necessário dizer, também fazem parte setores que o povo obrigou a descer do muro da indecisão e dos cochichos pouco recomendáveis. Na votação do impeachment na Câmara, ficou patente que os defensores, iniciais e obstinados, da destituição da presidente Dilma Rousseff não reuniam, eles apenas, os 342 votos que permitiriam a ida do processo para o Senado.
A complementação veio de parlamentares que tinham compromisso "de honra" com Dilma e Lula, alguns até protagonistas de cenas de corrupção e escândalos que colaboraram com o descrédito que se abateu sobre o governo petista.
Gente boa para votar, vá lá que seja, mas inadequada para governar de modo exigente. Daí a necessidade do apoio do PSDB ao governo interino. Eis a crença que, firmemente, nutro, e não tenho razão para esconder.
Respeito as posições contrárias, porém insisto em expor as minhas com a responsabilidade que este momento de crise impõe.
Responsabilidade que julgo ser de todo o PSDB. É tempo de enfrentar a crise... ou não teremos Brasil em 2018.
Depressão econômica e democracia não coexistirão eternamente. Uma delas sucumbirá. Que não seja a democracia, restabelecida no Brasil a peso de sangue, suor e lágrimas.
------------------
Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus pelo PSDB. Foi deputado federal, senador e ministro-chefe da secretaria-geral da Presidência (governo Fernando Henrique Cardoso)
Nenhum comentário:
Postar um comentário