• O empurrão que faltava para o presidente interino
- Valor Econômico
A cruzada do presidente Michel Temer para atravessar a barreira da interinidade ganhou um empurrão da trindade promotor-juiz-polícia. Depois de comprometer o futuro eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de varrer três ministros do governo, as operações agora miram a alternativa mais vistosa à permanência do presidente interino no poder, Marina Silva.
A ex-senadora tem viajado para promover as candidaturas do seu partido às disputas municipais sem descuidar das chances de vir a disputar eleições presidenciais, seja por decisão do Tribunal Superior Eleitoral de cassar a afastada e o interino, seja pelo retorno de Dilma Rousseff casado com a convocação de um plebiscito.
São possibilidades remotas, mantidas no radar pelas incertezas da conjuntura e pela preservação de Marina num altar que paira sobre um mar de suspeição. As condições políticas de ambas as possibilidades se concretizarem ficaram mais distantes pelas últimas iniciativas policiais e governamentais.
Uma semana depois de vazado o acordo de delação em que um dos sócios da OAS revela encontro com o vice de Marina em 2010 para uma doação supostamente em caixa 2, uma operação desencadeada a 3 mil quilômetros de Curitiba encontrou indícios de lavagem de dinheiro no jato que caiu com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, titular da chapa depois encabeçada pela fundadora do Rede.
Se a justiça eleitoral, como pretende Marina, julgar que a lavagem de dinheiro na campanha de Dilma Rousseff auferiu benefícios que não podem ser dissociados de seu vice, dificilmente decidiria de maneira distinta em relação à chapa, à época puro-sangue, do PSB. Ainda que um julgamento do gênero não esteja em pauta, as evidências de irregularidades envolvendo campanhas pregressas de Marina, abalam a militância do Rede por uma nova política.
A fundadora do Rede apoia-se no discurso de que apenas o aprofundamento das investigações pode vir a por em pratos limpos o acontecido. Tão improvável quanto um plebiscito por novas eleições é a possibilidade de Marina encontrar de bate pronto um lastro reformulado para sua candidatura.
Ainda que o deputado não esteja no rol de violadores das esperanças de Michel Temer, a inclusão de Jair Bolsonaro no rol de réus do Supremo também pode vir a comprometer um dos canais de vazão eleitoral à insatisfação com o governo interino.
Candidato a atrair o baixo clero hoje abrigado na base parlamentar de Temer, o ex-ministro Ciro Gomes é o mais realista sobre as chances de um cenário sucessório se apresentar antes de 2018. "Absolutamente impraticável", disse a Fernando Taquari, do Valor.
Na defesa da abreviação deste governo, outro dos entrevistados da semana, o ex-ministro Aldo Rebelo, disse que o problema vai criar a solução. A inviabilidade das soluções postas não levou o presidente interino a descuidar do problema - o mais imediato deles, os dois terços do Senado a favor do impeachment.
Sua principal aposta foi o acordo fechado com os Estados. Mais generoso que aquele costurado pelo ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, o acordo foi feito sob medida para um fórum federativo, como o Senado, que abriga a maior concentração de candidatos a governador da capital federal. Dono da Casa e pai do governador de Alagoas, o senador Renan Calheiros, foi o principal alvo de Temer. Como costuma acontecer em acordos do gênero, os Estados mais indisciplinados, como Rio e Alagoas, foram os mais premiados.
A resposta não tardou. Renan pautou de imediato a votação do projeto de lei de responsabilidade das estatais. A aprovação era ansiosamente aguardada por partidos da base parlamentar do governo que disputam indicações nas estatais. Provavelmente porque pretendem influenciar positivamente no compromisso dessas empresas com a transparência pública. Atendidas as demandas, é possível que Temer consiga apaziguar parte dos insatisfeitos com um governo de poucas obras.
Na mesma sessão, Renan também liberou a votação de outro projeto destinado a atender demandas represadas, o projeto que alarga a base de empresas beneficiadas pelo perdão de suas dívidas.
A lista de pendências fiscais ainda é longa. Resta a negociação das dívidas dos Estados com o BNDES, além de prefeitos que querem ser tão bem tratados quanto os governadores. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já garantiu, e todos parecem acreditar, que tudo cabe no guarda chuva dos R$ 170 bilhões em que limitou o déficit deste ano.
Ainda está por ser estimada a conta que restará para os bancos oficiais, das 380 páginas dos credores da Oi, mas nada parece abalar a confiança dos porta-vozes do mercado, outrora críticos de governos perdulários. O que interessa agora são os 54 votos do Senado que podem vir a levar Temer para o outro lado do Rubicão.
Uma vez instalado na outra margem, Temer poderá se dedicar a desmontar a bomba armada na Câmara dos Deputados a partir da divisão de seus aliados para a sucessão de Eduardo Cunha. Até lá, as turbulências já terão se naturalizado como o ritmo deste governo, com tal intensidade que custará a se aquilatar seu legado.
Caixa-preta
Pernambuco é o Estado mais aquinhoado de ministérios -Educação, Cidades, Defesa e Minas e Energia. Por este último responde um deputado de 32 anos que tinha a experiência em energia limitada a projetos de demandavam isenções tarifárias. Terá dificuldades em se sustentar no cargo com o pai enredado na Turbulência e na Lava-jato. Os quatro ministros foram aliados de Eduardo Campos. O atual governador e o prefeito da capital, herdeiros políticos, estão rompidos com três deles. Delatores remexem da terraplanagem da refinaria, enterrada na Castelo de Areia, ao cimento que falta às obras da transposição. As duas operações mal começaram a trocar informações, mas já partilham o risco de uma fatura a ser debitada exclusivamente na conta de um morto.
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