• Apesar das decisões impopulares que tomou para reequilibrar os fundamentos da economia, Macri apresenta sólido apoio na Argentina
- O Estado de S. Paulo
Com seis meses de governo, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, sustenta sólido apoio, apesar das decisões impopulares que tomou para reequilibrar os fundamentos da economia.
Seu governo teve início em dezembro com imagem positiva de 66%, de acordo com a Consultoria Isonomia, e no fim de maio ostentava 62%. Diferentemente do que acontece no Brasil, a opinião pública argentina separa os índices de avaliação da coligação de governo (“Cambiemos”) da avaliação do presidente. Este iniciou seu mandato com os mesmos 62% de aprovação e hoje está com cerca de 52%. Na edição desta segunda-feira, o diário portenho La Nación observa que esse nível de avaliação é similar ao que detinha Cristina Kirchner seis meses depois do início de seu segundo mandato, e muito superior aos 28% que mostrou no início do primeiro.
Conforme aponta Dante Sica, da Consultoria Abeceb, a população argentina parece ter entendido que as medidas impopulares se tornaram inevitáveis diante da herança desastrosa da presidente Kirchner e, por isso, segue passando voto de confiança à nova administração. Mas agora Macri está sendo desafiado a mostrar logo resultados.
A principal medida impopular foi o corte dos subsídios. As tarifas de energia elétrica, por exemplo, sofreram reajustes de 23%. E outra foi a liberação do câmbio, que elevou as cotações do dólar em 45,2% e encareceu os importados.
A inflação acumulada em 2016 já é de 21% e aponta para mais de 40% no ano (veja o Confira). Mas a meta é atingir em dezembro uma inflação anualizada de 25%. Assim, o governo Macri espera que o argentino acredite na baixa da inflação e aposte na estabilização.
Seus dois primeiros sucessos foram ter estabilizado o câmbio, hoje em torno de 14 pesos por dólar, e ter normalizado as turbulentas relações com os credores. Um terceiro está a caminho: a implantação do regime de metas de inflação.
O rombo fiscal continua alto, de 4,5% do PIB. As despesas públicas seguem crescendo mais do que a arrecadação. Mas o governo espera duas boas lufadas de recursos: o afluxo de financiamentos externos agora retomados; e a repatriação de capitais.
Dante Sica estima que os argentinos mantenham no exterior entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões em ativos não declarados. Com esse “blanqueo”, espera arrecadar neste ano cerca de US$ 20 bilhões.
Conta com dois trunfos. O primeiro é o retorno da confiança e o ajuste cambial realizado, uma vez que a fuga de capitais aconteceu principalmente em consequência do risco de desvalorização do peso, que agora não existe mais; e o segundo é o de que, desta vez, o contribuinte argentino está ameaçado de ser apanhado na malha que 48 países se comprometeram a estender com trocas recíprocas de informações fiscais.
Entre os grandes desafios que o governo Macri tem a enfrentar estão o controle da inflação e a retomada do crescimento econômico e do emprego, hoje altamente dependente dos novos investimentos, principalmente em energia. Um insucesso nesses quesitos aumentará as pressões por reajustes de salários e aposentadorias.
Lá e cá
Embora inevitáveis, as comparações entre o desempenho do governo Macri e o de Temer são prejudicadas por vários fatores. Macri é presidente efetivo; Temer é presidente em exercício. O governo Macri não enfrenta turbulências; o de Temer passa por pelo menos três: o processo de impeachment ainda não concluído; o furacão da Operação Lava Jato; e o rombo fiscal que é de cerca do dobro do argentino. Temer está há um mês no governo e já teve de mudar dois ministros.
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