terça-feira, 7 de junho de 2016

Encarar a sujeira – Editorial / Folha de S. Paulo

Ainda não foi desta vez que Michel Temer (PMDB) começou uma semana livre de turbulências em seu primeiro escalão. Na manhã desta segunda-feira (6), o presidente interino promoveu uma reunião no Palácio do Jaburu para decidir o destino dos ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Fábio Osório (Advocacia-Geral da União).

Sobre o primeiro pesa a suspeita de que tenha recebido dinheiro no esquema do petrolão. O segundo vinha sendo criticado por sua atuação à frente da pasta. Ao menos por ora, Temer considerou não haver motivos suficientes para afastá-los, e ambos mantêm seus cargos.

Antes deles, outros enfrentaram provações semelhantes, mas com distintos desfechos. Alexandre de Moraes (Justiça) e Ricardo Barros (Saúde) viram-se obrigados a emendar as próprias declarações; Romero Jucá e Fabiano Silveira, por sua vez, terminaram fora de suas pastas (Planejamento e Transparência, respectivamente).


Pode-se imaginar sem medo de errar que as fontes de instabilidade para o governo Temer não se esgotarão nesses episódios. Como fica claro a partir do noticiário dos últimos dias, avançam as negociações sobre possível delação premiada dos empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS).

Os dois têm boas razões para contar muito do que sabem –e para fazê-lo quanto antes. Consta que o Ministério Público Federal planeja aceitar o depoimento de apenas um deles. Ou seja, quem quiser utilizar a colaboração com a Justiça como estratégia de defesa não poderá tergiversar.

Eis uma corrida valiosa para a sociedade. Seja pelos vastos negócios que detinham com diferentes governos, seja pela ampla rede de contatos, Odebrecht e Pinheiro têm muito a dizer sobre grandes escândalos de corrupção no país.

Do governo interino ao afastado, do Poder Executivo ao Legislativo, dos membros da situação aos da oposição, é difícil arriscar qual figurão da política passará incólume por essa rodada de delações.

Se a primeira instância da Justiça Federal caminha no ritmo esperado, o Tribunal Superior Eleitoral se permite incompreensível apatia. Como se fosse questão de somenos, o ministro Gilmar Mendes, presidente do órgão, afirmou que o julgamento das contas da chapa Dilma-Temer provavelmente chegará a seu fim apenas em 2017.

Seria um desastre, pois eventual cassação, nos termos da lei, levaria à realização de eleições indiretas.

Verdade que o país patina numa crise econômica cuja solução depende de certa estabilidade política. Esta, contudo, precisa ser conquistada pelo esclarecimento de todas as suspeitas e pela punição dos responsáveis. Jogar a sujeira para baixo do tapete foi o que o Brasil sempre fez –e deu no que deu.

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