sexta-feira, 22 de julho de 2016

A positiva estreia do novo Banco Central – Editorial / O Globo

• Primeira reunião da diretoria de Goldfajn no Copom reafirma autonomia da instituição e inaugura comunicação mais clara com mercados e sociedade

A manutenção da taxa básica de juros em 14,25% já era esperada. Neste aspecto, a primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) da nova diretoria do Banco Central, com Ilan Goldfajn no comando, encerrada quarta, não chamou a atenção. Mas o momento em que ela ocorreu e a forma com que o BC passou a se comunicar com o mercado e a sociedade marcam mudanças para melhor, em contraste com a administração anterior, de Alexandre Tombini e a presidente Dilma Rousseff, responsável por manter a autoridade monetária subordinada ao Planalto.

A nova diretoria do BC já adiantara que procuraria ser mais clara nos comunicados, essenciais para todo banco central. Pois é por meio deles que os BCs buscam ajustar as expectativas aos objetivos da política monetária. Quanto mais claro, mais eficiente, embora haja uma tradição de que BCs se comunicam pelas entrelinhas.


Este era um dos vários pontos fracos de Dilma/ Tombini. As notas liberadas logo depois das reuniões do Copom eram curtas e pouco informavam. Mas mudou. O comunicado, além de claro, passou a ser maior, mais detalhado.

Nele, foram expostos sem rodeios os motivos pelos quais o Copom decidiu, por unanimidade, não alterar os 14,25%. Entre eles, a possibilidade de os preços de alimentos continuarem a pressionar a inflação; a indefinição sobre a aprovação dos ajustes pelo Congresso, em especial a emenda do teto dos gastos públicos; e a constatação de que o longo período de inflação elevada possa ter reforçado os mecanismos de indexação, com a realimentação da inflação futura pela passada.

Na semana que vem, a ata da reunião será divulgada terça, e não mais quinta, como era praxe. Melhor mesmo ser mais cedo. Promete-se um texto também claro, não burocrático como os anteriores, que também eram repetitivos.

Esta primeira reunião permitiu que o BC demonstrasse autonomia, como prometera o presidente interino, Michel Temer, que teve de reafirmá-la porque o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, dera declarações favoráveis ao corte imediato dos juros.

Este filme passou algumas vezes em Brasília, e o fato de o Copom não ter alterado a Selic foi outro bom sinal para o mercado. Não se sabe é se Padilha será na gestão Temer o que José Alencar foi para Lula, de quem era vice-presidente .

Desde o início do primeiro mandato de Lula, José Alencar pregou o corte dos juros na marra, contra o entendimento do então presidente do BC, Henrique Meirelles. Com o tempo, não se deu mais importância ao bordão de Alencar contra a Selic, a inflação caiu e o país, também ajudado pela economia mundial, surfou um ciclo de crescimento. Com Dilma, acabou a autonomia do BC, os juros foram cortados na base da “vontade política” do Planalto, e não deu certo, como era previsto. Temer, portanto, que acompanhou este desastre de política econômica, sabe ao menos o que não deve fazer em relação ao Banco Central.

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