- O Globo
A previdência dos funcionários do Rio teve um déficit de R$ 12 bilhões; a de São Paulo, R$ 18 bi; a do Rio Grande do Sul, R$ 8 bi; e a do Espírito Santo, R$ 1,4 bi. Esses números mostram, segundo o governador Paulo Hartung, que é fundamental fazer a reforma dos sistemas estaduais de previdência. Hartung, que foi contra o acordo da dívida com a União, acha que agora é hora das contrapartidas.
Ele diz que o acordo da dívida só beneficiou os grandes estados, que eram mais endividados, o que ele acha uma injustiça e uma “pedagogia nada bacana”:
— É insignificante a economia que vamos fazer em relação às despesas que eu administro. O que resta de positivo no acordo da dívida são as contrapartidas, por isso precisamos que o Congresso as aprove. No fundo, esse acordo não deveria ter sido reaberto, porque foi feito no governo Fernando Henrique em condições vantajosas para os estados. Alguns usam a palavra agiotagem. Não é verdade. O que acontece é que os juros são altos no país pela desordem nas contas públicas. No dia em que tivermos equilíbrio nas contas, teremos juros baixos e sustentáveis.
O governador capixaba disse, na entrevista que me concedeu na Globonews, que o problema principal dos estados é a folha de pagamento crescendo em descompasso com a arrecadação. E dentro da folha, o maior problema é dos inativos:
— Precisamos encarar esse problema. Nesse momento de dificuldade, de crise, em que o país está na beirada do barranco, literalmente, precisamos de um diálogo franco com a população para explicar que o problema que aconteceu na Grécia não está distante de nós. O Rio está vivendo isso: de aposentados não receberem. Não adianta apenas ter direitos e ficar na porta do banco sem recebê-los. Por isso, precisamos reformar a previdência. O Brasil está numa situação delicadíssima e não podemos esconder isso da população. E nesta hora difícil é o momento de fazer as coisas. Eu aprendi que com vento favorável as mudanças necessárias não são implementadas.
Ele acha que o país precisa de uma agenda que comece com a reorganização das contas públicas nacionais, geração de emprego, educação básica de qualidade para os jovens:
— As reformas não são impopulares, porque vão melhorar a vida do povo.
Ele disse que é preciso aprender que o intervencionismo do governo sempre dará errado:
— Quando o governo tenta fazer o PIB andar com intervencionismo, no momento seguinte o país quebra e gera essa tristeza que estamos vivendo. Já experimentamos isso na ditadura e agora na democracia. Que fique como aprendizagem para o país: governo não faz PIB, faz ambiente de negócios.
Paulo Hartung é elogiado como exemplo de gestor. E tem um currículo que mostra isso. Antes da entrevista, contudo, recebi uma nota técnica do ex-governador Renato Casagrande dizendo que Hartung elevou mais a folha salarial, nos dois mandatos, do que ele, Casagrande, fez no governo passado.
Hartung explicou que quando assumiu, no primeiro mandato, encontrou uma máquina desestruturada. Um dos trabalhos foi contratar mais funcionários:
— Havia setores que não pagavam impostos, como o de combustíveis e lubrificantes. Ao reorganizar a máquina fazendária do estado, a receita cresceu muito. Contratei porque o estado estava sucateado. Aumentei o gasto com a folha de acordo com o aumento da receita e sem contar a arrecadação do petróleo. Quando entreguei o governo, o estado estava numa posição invejável. Tínhamos uma capacidade de investimento com recursos próprios de 16% da receita, a maior do Brasil. Tínhamos poupança de mais de R$ 1 bilhão em caixa, livre das despesas correntes.
Segundo ele, quando voltou ao governo a capacidade de investimento havia desaparecido e os investimentos eram feitos com operação de crédito. Ele pediu o Orçamento de volta e negociou com todos os poderes uma redução da receita e das despesas:
— A receita orçada bateu com a receita arrecadada, pagamos todas as contas de 2015 em dia e viramos o ano com superávit.
Admite que neste ano está tão difícil, pela queda da arrecadação, que só cabe a ele “trabalhar e rezar”.
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