sexta-feira, 22 de julho de 2016

Sob nova direção – Editorial/ Folha de S. Paulo

Nos últimos anos, as decisões periódicas do Banco Central sobre a taxa de juros vieram acompanhadas de mensagens sucintas, em geral cifradas, a partir das quais analistas de mercado lançavam-se a penosas tentativas de prever os rumos da política monetária.

Sob novo comando, o BC foi previsível, nesta quarta-feira (20), ao manter a taxa Selic, referência para os juros bancários, nos elevadíssimos 14,25% ao ano vigentes já há 12 meses. Mas inovou, ao menos, na comunicação.

Em busca de recuperar a credibilidade da instituição, corroída por sucessivos descumprimentos das metas de inflação, a diretoria comandada por Ilan Goldfajn divulgou um texto de 11 parágrafos —eram dois ou três no padrão anterior– em que busca demarcar com mais clareza os diagnósticos e objetivos a nortear sua estratégia.


Se o esforço de transparência merece elogios, o conteúdo do documento não chega a ser auspicioso. Diz-se, na essência, que ainda não há espaço para cortes dos juros, em razão de pressões como a dos preços dos alimentos (que já acumulam alta de 7% no ano) e incertezas quanto ao andamento das reformas econômicas.

Nesse cenário, a projeção oficial aponta que, na hipótese de uma redução imediata da Selic, a inflação ficaria acima da meta de 4,5% em 2017; neste ano, recorde-se, ela deverá superar mais uma vez o teto de 6,5%.

O comunicado ressalta a preocupação com o fenômeno conhecido como inércia inflacionária —ou, vale dizer, a perpetuação da carestia por meio de mecanismos formais e informais de correção de preços e salários.

Trata-se de um risco particularmente acentuado no Brasil, onde décadas de descontrole monetário fomentaram a cultura da indexação, visível nos contratos e nas relações trabalhistas. Daí ser necessário interromper o quanto antes a recente era de tolerância com a inflação acima da meta, que teve início no governo Dilma Rousseff (PT).

O BC mostrou, todavia, esperanças de um cenário mais benigno à frente. O desemprego e a queda do consumo, no entender do banco, podem resultar em um recuo do IPCA mais rápido que o indicado pelas expectativas atuais.

Aguarda-se, ou cobra-se, um trâmite mais célere dos projetos destinados a consertar o Orçamento do governo e conter a dívida pública, o que reforçaria a confiança de investidores e empresários e tornaria mais fácil a tarefa de conter a alta de preços.

São ponderações pertinentes e realistas, que mantêm no horizonte das possibilidades um corte dos juros ainda neste ano —pela primeira vez desde um longínquo 2012.

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