O Banco Central inovou para melhorar sua comunicação, ao delinear com maior extensão e clareza os motivos pelos quais manteve a taxa básica de juros em 14,25%. A decisão fez os investidores jogarem mais para a frente a expectativa de redução da taxa Selic, com expectativas mais concentradas a partir de agosto (50% de chances antes, 18% agora). O comunicado do Comitê de Política Monetária condiciona um afrouxamento da política monetária, sem se comprometer com prazos, à dissipação das incertezas sobre a aprovação e execução dos ajustes nas contas públicas e, também, a uma redução das previsões de inflação do mercado para mais perto do centro da meta de inflação, de 4,5%.
A nova gestão do BC começa assim a deslindar a rotina consolidada nos últimos anos, que mais obscureceu que deixou claro os rumos que a autoridade monetária pretendia adotar no combate à inflação. Antes, a um comunicado curto e cifrado sucediam-se de imediato entrevista de membros do banco que introduziam novos elementos que causavam incerteza sobre os objetivos do BC, quando não o tornavam obsoleto logo após sua divulgação. Uma parte do problema se devia à forma da comunicação, mas o fato de o BC atuar inconfessadamente com a intenção apenas de não deixar a inflação ultrapassar o teto da meta, em vez de perseguir seu centro, certamente truncava a mensagem.
O BC, agora, expôs logo após a decisão o balanço de riscos que norteia sua ação nos juros. Em relação ao comportamento do índice de inflação, notou a pressão altista dos alimentos, expressa, no dia seguinte, na elevação do IPCA-15 de julho, que atingiu 0,54% (0,4% em junho) e 8,93% em 12 meses (ante 8,98% anterior). O item foi responsável por 70% do resultado que, no entanto, mostrou mais um recuo no índice de difusão (57,8% agora).
Ainda que a tendência nos próximos meses seja de arrefecimento, o BC não tem certeza sobre a persistência dessa pressão que, somada a um longo período de inflação fora do centro da meta, dá mais força aos "mecanismos inerciais" e dificulta a consecução dos 4,5% em 2017 com a qual a nova direção do BC se comprometeu.
O BC abriu também de imediato as projeções de inflação atualizadas, mostrando que as condições agora são melhores no cenário de referência com que a autoridade monetária trabalha, que é de IPCA a 4,5%, mantida a Selic até lá. Mas o mercado ainda não se convenceu e, embora tenha reduzido sua projeção, ela gira hoje em torno de 5,3%, o que deixa o BC em posição desconfortável para promover o início de um ciclo de ajuste.
As incertezas quanto à aprovação e execução do ajuste fiscal proposto entra como um ingrediente que exige prudência nos movimentos do BC. Na administração anterior, o afrouxamento que levou a Selic a seu menor nível, de 7,25%, não foi acompanhada por uma política fiscal sob controle, mas por outra fortemente expansionista. O BC não qualificou a situação da política fiscal corrente (expansionista ou contracionista) e poderá, ou não, fazer isso na ata, cuja divulgação antecipou em dois dias em relação à rotina anterior.
Essas incertezas quanto aos rumos fiscais, porém, persistirão e o BC pode ser convencido a agir antes que uma definição a respeito seja dada pelo Congresso. A previsão mais recente é de que a Câmara inicie a votação do limite da evolução dos gastos à inflação apenas depois do primeiro turno das eleições municipais, isto é, em meados de outubro. Com dois turnos de votação em cada Casa, a aprovação ou não do projeto provavelmente só será conhecida em novembro ou depois.
Assim, outros fatores podem influir para que o BC, como se espera, reduza os juros a partir de outubro e eles estão igualmente presentes no comunicado. Um deles é que, devido à recessão, que deixou de se aprofundar, "o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápido do que a refletida nas projeções do Copom". O outro é que o próprio mercado, que tem mostrado confiança na equipe econômica do governo interino, continue reduzindo sua projeção de inflação, caso seja aprovado o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Isto poderá acelerar o calendário no Congresso.
E, apesar do cenário externo "desafiador", o maior influxo de capital externo, o expressivo saldo comercial, a queda forte do déficit em conta corrente e a volta cautelosa das captações externas valorizam sobremaneira o real, o que dá uma bela ajuda para derrubar a inflação.
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