Tudo indica que o Brasil poderá ser um dos destaques entre os alvos dos investidores internacionais na volta das férias do Hemisfério Norte, neste segundo semestre. Vários sinais emitidos nas últimas semanas indicam maior interesse do capital internacional pelos ativos dos mercados emergentes, em especial o Brasil. O mais recente veio do Institute of Internacional Finance (IIF) que reúne cerca de 500 bancos, seguradoras e administradoras de fundos e atribuiu principalmente ao Brasil o aumento de pouco mais de 10% da previsão de fluxo externo para a América Latina neste ano, entre investimento direto, renda fixa e ações, de US$ 198 bilhões para US$ 221 bilhões.
Na avaliação do IIF, o comprometimento do presidente interino Michel Temer com o ajuste da economia, avalizado pela confiança no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e baseado no tripé de controle da inflação, câmbio flexível e disciplina fiscal, está contribuindo para reduzir aos poucos o receio do investidor internacional. O interesse é motivado também pela expectativa de recuperação da economia brasileira em 2017. A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados reforça a tendência na medida que sugere avanço na aprovação das propostas de ajuste fiscal do governo.
O cenário internacional favorece a previsão de maior investimento no Brasil. Depois de alguns dias de turbulências e dúvidas após a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, acredita-se que a expectativa de crescimento mais lento das economias avançadas e a manutenção de juros baixos por mais tempo podem intensificar o apetite pelos mercados emergentes. Recentemente, até a Alemanha emitiu títulos com juros negativos e acredita-se que o Reino Unido vai seguir o mesmo caminho para tentar estimular a economia. O Bank of America Merrill Lynch estima que existam atualmente US$ 13 trilhões aplicados em títulos a juros negativos em busca de melhores oportunidades.
Por outro lado, o Brasil deu sinais de que o juro continuará elevado por mais tempo. Esperava-se que o Banco Central (BC), sob o comando de Ilan Goldfajn, reduziria a taxa básica em breve. No entanto, o BC deixou claro que manterá os juros elevados por mais tempo, de modo a levar a inflação para os 4,5% do centro da meta no próximo ano. Logo após o afastamento da presidente Dilma, no fim de maio, a previsão dos economistas consultados pela pesquisa Focus do BC era que a taxa Selic terminaria o ano em 12,75%; agora, a previsão subiu para 13,25%, abaixo dos atuais 14,25%, mas não tão inferior quanto se imaginou. Pesquisa feita pelo Valor (18/7) revelou que o mercado conta com o corte de juros apenas no quarto trimestre.
O maior interesse desse investidor pelo Brasil se reflete na valorização do real ao longo deste ano, acumulando mais de 15%, embora a apreciação não esteja respaldada em um efetivo aumento do ingresso de recursos externos. Ao contrário, o fluxo do câmbio está negativo em US$ 12,2 bilhões neste ano até o início do mês, de acordo com o BC. Outro sinal é a taxa do risco do país, medida pelo "credit default swap" (CDS), ao redor de 300 pontos, depois de ter atingido 540 pontos no fim de 2015, patamar de países como Grécia, Ucrânia e Venezuela.
Dados do BC mostram também que houve pouco impacto nas contas externas até maio, dado mais recente disponível, mas o próprio BC espera mudanças significativas nos próximos meses. A face mais visível é o investimento direto, que acumulou nos cinco primeiros meses do ano quase US$ 30 bilhões -mais do que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de US$ 6 bilhões -, e deve fechar o ano em US$ 70 bilhões. A carteira de curto prazo está negativa em US$ 6,8 bilhões, basicamente por causa dos resgates de papéis de renda fixa. A taxa de rolagem dos títulos vencidos ficou em apenas 46% nos cinco primeiros meses do ano, mas o BC acredita que vai subir para 60%.
Levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais já reflete uma melhoria. No primeiro semestre, as empresas brasileiras captaram no mercado internacional US$ 10,25 bilhões, 27,2% a mais do que em 2015. Incluindo o início de julho, o volume chega a US$ 13,35 bilhões e a previsão é de que pode dobrar até o fim do ano.
Nem tudo está garantido, porém, a começar pelo resultado da votação do impeachment de Dilma. O cenário internacional pode ainda apresentar surpresas que influenciarão o humor dos investidores, notadamente com a evolução dos juros americanos.
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