Em meio à crise do estado, que tem dívidas e salários atrasados, o secretário de Fazenda, Julio Bueno, deixou o cargo. Ele vinha sendo críticado pelo PMDB e será substituído na pasta por Gustavo Barbosa, que presidia o Rioprevidência.
Secretário de Fazenda deixa o cargo em meio à crise estadual
• Julio Bueno, porém, ficará no governo como assessor de Dornelles
Luiz Gustavo Schmitt - O Globo
O secretário estadual de Fazenda, Julio Bueno, deixou o cargo ontem em meio a um quadro sem precedentes de crise nas finanças do Rio. Em seu lugar, assumirá o presidente do Rioprevidência, Gustavo Barbosa. A informação foi antecipada por Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. A exoneração será publicada hoje no Diário Oficial. Bueno, no entanto, não deixará o governo: ele será assessor especial do governador interino Francisco Dornelles.
Diante de um quadro de salários atrasados e demora no repasses de recursos para áreas essenciais, como saúde e educação, Bueno se tornou alvo da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ele havia sido chamado para, hoje, prestar contas dos problemas de sua gestão aos deputados da Casa.
Criticado pelo presidente da ALERJ
Bueno vivia um desgaste à frente da secretaria por não ter experiência na área fiscal. Por esse motivo, enfrentava insatisfação até mesmo de auditores fiscais. O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), chegou a dizer que o secretário estava deslocado no cargo.
Também não faltava fogo amigo dentro do governo. Na Alerj, na última terça-feira, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, deixou claro que tinha dificuldade de planejar o combate à violência porque a Fazenda não cumpria o calendário de pagamento do Regime Adicional de Serviços (RAS), sistema em que o policial trabalha em seu dia de folga. Já o secretário de Saúde, Luiz Antônio Teixeira, disse que os repasses de Bueno só atingiam 4% do limite mínimo de 12% para o setor.
Em junho, os ataques ao secretário de Fazenda Bueno partiram de Paulo Melo, titular da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. Melo disse que Bueno sofria de “insensibilidade generalizada” ao não fazer os depósitos para 13 milhões de beneficiários do programa Renda Melhor, que dá auxílio de R$ 30 a R$ 300 para famílias miseráveis do estado.
A gota d’água teria ocorrido na semana passada, quando Bueno enfrentou um protesto de servidores em frente ao prédio onde mora, na Lagoa. Na ocasião, o secretário foi fotografado a bordo de um carro de luxo. O veículo está registrado no Detran-RJ em nome da Citroën. A empresa recebeu do estado um incentivo fiscal de R$ 3,7 bilhões, dos quais pelo menos R$ 850 milhões foram utilizados para a expansão de sua fábrica em Porto Real. A Fazenda alegou que o veículo foi cedido pela montadora em comodato, de graça, e que há outros cinco automóveis na mesma situação, que servem autoridades do estado.
Dois salários, num total de R$ 65 mil
A gestão de Bueno no estado foi marcada por uma política de incentivos fiscais. Segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), somente entre 2008 e 2013, o estado teria concedido R$ 138 bilhões em incentivos.
O secretário também se viu em meio a uma situação constrangedora, em junho, quando veio à tona a informação de que ganhava R$ 65 mil mensais, superando o teto constitucional. Engenheiro metalúrgico, Bueno é funcionário de carreira da Petrobras. Ele assumiu a Fazenda em fevereiro de 2015 e recebia salários dos dois cargos.
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