Angela Boldrini – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Em evento com estudantes e representantes de associações de professores em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a presidente afastada Dilma Rousseff criticou a política do governo interino de Michel Temer e comparou seu processo de impeachment com a tentativa de golpe na Turquia.
"Um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos o golpe, porque não há armas, não há tanques nas ruas, não há tiroteio", afirmou a petista. Mas, segundo ela, enquanto na Turquia há um golpe "verdadeiramente militar", o Brasil vive um "golpe parlamentar".
"Lá, você tem um machado que quebra a árvore da democracia, enquanto no golpe parlamentar são parasitas atacando a árvore", afirmou ela na UFABC (Universidade Federal do ABC), nesta segunda-feira (18).
De acordo com a presidente afastada, há, por trás de seu impeachment uma "ambição pelo parlamentarismo", pois o sistema de votos proporcionais criaria "filtros financeiros" oligárquicos nas eleições. "O parlamento no Brasil é mais conservador que o Executivo."
Em sua fala, ela voltou a afirmar que não cometeu crime de responsabilidade nas pedaladas fiscais e que, ser for condenada por elas, seus antecessores também deveriam ter sido. "Está ficando até chato. Semana passada o Ministério Público Federal disse que a pedalada não ser caracteriza como irregularidade, que não há crime nesse caso, disse.
Dilma criticou o projeto do governo Temer de estabelecimento de teto para gastos com educação e saúde nos próximos 20 anos. Segundo ela, o resultado da medida seria "a redução per capita dos gastos" ao longo dos anos, com o ingresso de mais alunos nas universidades. "É a medida mais grave desse governo para mim", afirmou.
"Nós temos que gastar mais com educação", disse a petista para a plateia que a havia recebido com gritos de "volta querida". Segundo Dilma, o problema na educação brasileira é "complexo, porque somos um país ainda muito desigual."
"Eu acho que não resolvemos o problema da educação melhorando o acesso a ela", afirmou. Segundo ela, é preciso uma "política contínua" para melhorar a qualidade da educação brasileira. "E aí é o perigo do golpe, a quebra da continuidade."
Política externa
Dilma criticou a política externa de Temer e o ministro das Relações Exteriores José Serra. Segundo ela, o Brasil conseguiu afirmação no plano internacional graças a sua posição "não imperialista" e priorizando países vizinhos. Não de quem fala fino com os EUA e grosso com a Bolívia."
"Só quem não entende de política externa pode achar que podemos abrir mão do Mercosul, da Unasul, da Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos]", afirmou.
Ela acusou ainda os articuladores de seu impeachment de usarem os países do continente "para fazer política interna". "Estou me referindo à Venezuela."
O país, que passa por grave crise, é citado por alguns adversários da presidente afastada como o suposto "modelo" a que os governos petistas almejariam.
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