sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Falcão descarta proposta de presidente afastada

• Petista diz que nova eleição é inviável e é contestado por dirigente do partido

Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- O presidente do PT, Rui Falcão, disse considerar inviável a proposta de um plebiscito sobre novas eleições que a presidente afastada, Dilma Rousseff, deve incluir na carta a ser enviada por ela aos senadores, antes da votação final do processo do impeachment. A declaração gerou críticas dentro do partido e insinuações de que Falcão não quer se empenhar em combater o governo de Michel Temer.

Segundo o dirigente petista, se for levada adiante, a proposta tem etapas a percorrer: o Supremo Tribunal Federal (STF) precisaria decidir se a antecipação da eleição mexe com cláusula pétrea da Constituição, além de necessitar dos votos favoráveis de dois terços da Câmara e do Senado — e só poderia ser realizada um ano após a decisão.

— O que significaria que as novas eleições se realizariam em 2018, na melhor das hipóteses. Não vejo nenhuma viabilidade para esse tipo de proposta — disse Falcão, ontem, após reunião da Executiva do PT.

Nesta semana, em entrevista à BBC, Dilma disse que divulgará uma carta aos senadores em que se compromete a apoiar a convocação de um plebiscito sobre novas eleições, caso retorne ao governo.

O secretário de Formação Política do PT, Carlos Árabe, da corrente Mensagem ao Partido, criticou duramente Falcão:

— Acho que ele quer colocar o PT quietinho. Fazer pequenos protestos e o Temer governar. Ficar na oposição é mais fácil, ainda mais em condições defensivas tendo que responder a processos, que ele deve se sentir parte. Ele se sente no direito de usurpar, de falar em nome do PT. Está perdendo as condições de ser presidente — afirmou Árabe.

A conjuntura política sobre os desdobramentos do impeachment não fez parte da pauta da reunião do comando do PT, ontem. O encontro teve como tema central as decisões sobre pendências de candidaturas nas eleições municipais.

— O centro da conjuntura é evitar o golpe. Nesse aspecto, não havia o que acrescentar ao que já deliberamos — justificou Falcão.

O impeachment deve ser discutido em nova reunião, daqui a duas semanas. O presidente do PT minimizou as últimas declarações de Dilma sobre o partido. Na semana passada, ela, ao comentar a confissão do marqueteiro João Santana de que recebeu dinheiro no exterior de caixa dois, como pagamento por dívidas da campanha presidencial de 2010, disse que a eventual responsabilidade por esse pagamento é do PT.

— Nunca ouvi isso dela. Não vou ficar repercutindo declarações da presidente — afirmou Rui Falcão.

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