Raphael Di Cunto – Valor Econômico
BRASÍLIA - Parlamentares petistas tentaram constranger o juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba e responsável pelos julgamentos da Lava-Jato na primeira instância, ontem em audiência pública na Câmara dos Deputados para tratar das "10 medidas de combate à corrupção" propostas pelo Ministério Público. "Vivemos tempos de juízes celebridades", criticou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da OAB-RJ. "O combate à corrupção não é produto de oráculos ou de divindades."
Para Damous, os projetos defendidos por Moro cheiram a fascismo ao proporem aumento de penas em um país com elevada população carcerária, de maioria composta por jovens negros. "É o Judiciário e o Ministério Público que precisam responder porque os poderosos não estão na cadeia", afirmou o petista, citando uma série de leis aprovadas no Congresso nos últimos anos.
Moro respondeu que o projeto é do Ministério Público e que está a favor porque representará um "avanço inegável" no combate à corrupção, mas não as trata como os dez mandamentos. "Os procuradores não são profetas, e tampouco eu. [...] Ninguém tem a pretensão de ser o dono da verdade ou o que o valha", disse.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) criticou a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "para gerar manchetes" e questionou o que ocorreria nos Estados Unidos - bastante citados por Moro na audiência - se "um juiz de primeira instância captasse o ex-presidente Bill Clinton em escutas e resolvesse divulga-las na imprensa.
Moro, que tornou público o conteúdo de escutas envolvendo Lula e a presidente afastada Dilma Rousseff, além de diversas conversas privadas do petista, afirmou que "ouviu as questões" de Pimenta - diferentemente dos outros deputados, em que agradeceu os questionamentos-, mas não quis explicar seu ato. "Não vou comentar casos concretos", disse.
Pimenta insinuou ainda que Moro não teve a mesma atuação rigorosa ao julgar o escândalo do Banestado, que investigou remessas ilegais de divisas, - "o pior é a seletividade", disse - e criticou os acordos de delação premiada com ex-funcionários da Petrobras que os permitiram cumprir penas de prisão domiciliar "em verdadeiros spas, melhores do que qualquer hotel cinco estrelas do país" - parte dos principais delatores, como o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, está em condomínios de luxo onde possuem residência. "Isso estimula a impunidade", disse o petista.
O juiz também não respondeu esses questionamentos e deixou a Câmara logo em seguida por uma saída alternativa para escapar do grande grupo que, com bandeiras do Brasil e camisetas com inscrições de apoio, tentavam tirar fotos ou vê-lo. O acesso à audiência foi restrito para evitar confusão que, a julgar pela plateia, seria causada mais pela tietagem ao magistrado do que pelos protestos - os gritos de golpistas eram casos isolados.
Fora os deputados petistas, Moro encontrou terreno mais amistoso. Foi de um deputado do PMDB, partido também envolvido nos escândalos julgados pelo magistrado, que partiu o pedido para continuar a Lava-Jato. "A esperança de milhões de desempregados está em suas mãos", disse Mauro Pereira (PMDB-RS).
O juiz explicou que, quando comentou que pretendia encerrar seu trabalho na operação até o fim do ano, fazia apenas um comentário devido ao cansaço. "O trabalho continua enquanto existe material com que se trabalhar, é impossível um prognóstico", respondeu. Sobre pretensões eleitorais, Moro disse que não há nenhuma chance. "Sou juiz profissional, minha carreira é na magistratura."
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