A economia brasileira está perto de retomar a rota do crescimento, embora a um ritmo incerto, muito provavelmente, modesto. Esse caminho começou a ser preparado pela reviravolta dos índices de confiança, após dois anos de expectativas no chão, quando o PIB apontava para a maior recessão em quase um século. O padrão da retomada deve ser bem diferente do observado em 2000 e 2008 - o consumo não deve reagir tão cedo e as empresas estão com muito mais dívidas do que em qualquer momento do passado recente.
A volta da confiança se deve à mudança de governo, ainda que provisória, e aos planos apresentados para reequilibrar a economia, que compuseram um horizonte futuro que havia se perdido caso a presidente Dilma Rousseff não fosse afastada. É um indicador importante, embora volátil e que precisa ser nutrido por ações econômicas e políticas positivas para se manter. Os mercados financeiros, como sempre, reagiram logo à perspectiva de retomada, com a bolsa em alta, ambiente mais favorável a captações externas e queda importante do "credit default swaps", medida do risco de calote do país, que está em 287 pontos, ante 480 pontos durante as turbulências financeiras de fevereiro.
Os movimentos financeiros já são mais consistentes e têm algum poder preditivo. Estudo feito por economista do Federal Reserve Bank sobre indicadores antecedentes em países emergentes mostra que a redução do spread de default sinaliza crescimento futuro no curto prazo, assim como o retorno com ações. De fevereiro até agora, o Índice Bovespa foi, de 40.570 pontos em 8 de fevereiro, para 57.500 ontem. Um pouco mais forte como sinal preditivo de expansão é a valorização das small caps em ritmo superior ao do índice geral de ações. Isso não ocorreu no primeiro trimestre do ano, mas sim no segundo, quando evoluíram 10,33% e 2,94%, respectivamente.
Esses indicadores tornam razoável esperar uma reação mais clara das atividades econômicas a partir do último trimestre do ano. Por outro lado, os indicadores da economia real ainda terão de melhor muito até configurarem uma retomada. A produção e importação de bens intermediários é um sinal antecedente forte do futuro da atividade industrial. A produção subiu 0,5% em relação a maio, quando caíra com igual intensidade. As importações desses bens ainda caem muito. No primeiro semestre de 2015 declinaram 15% e, no deste ano, 25%.
Do lado da oferta, conta-se com alguma melhora da indústria, sinalizada tenuamente pela média móvel trimestral de junho, que foi positiva em 0,6%. O fator decisivo para o PIB é o comportamento do setor de serviços, em grande parte dependente da indústria. A intermediação financeira deve declinar nos próximos meses, a considerar a queda aguda e sem paralelo recente das carteiras de crédito dos grandes bancos de varejo. O terceiro fator, a renda, está em queda, assim como a massa salarial, afetadas pelo avanço expressivo do desemprego (último dado, 11,3% na Pnad Contínua).
Do lado da demanda, o consumo das famílias, que compõe mais de 60% do PIB, cai pelos mesmos motivos. O BC, em sua última revisão, elevou a previsão negativa de desempenho para -4%, ante -3,3% em março. Já os investimentos devem reagir, mas não rapidamente. A produção interna de bens de capital aumentou um pouco em junho e as importações estancaram o ritmo de queda. De qualquer forma, toda a remodelação atual do aparato regulatório é demorada e as concessões na infraestrutura, a grande promessa, devem decolar mesmo em 2017. As exportações continuarão sendo o único setor de desempenho forte.
Diferente de sua ação na recessão de 2008, de curta duração, é a posição da política fiscal. Ela hoje é suavemente expansionista ou neutra, pois não há espaço para grandes estímulos. Mas o ajuste fiscal escolhido, porém, não seguiu o roteiro do corte drástico de gastos, e sim o de contenção no nível atual, ao redor de 19% do PIB, corrigido pela inflação. Ao escolher estratégia gradualista, mesmo diante da piora aguda das contas públicas herdada, a equipe econômica evitou colocar mais um peso sobre uma economia que ainda está em recessão.
A recuperação lenta, enquanto empresas e famílias reequilibram suas contas, tende a retardar o ajuste fiscal, que depende do comportamento da receita. Pode mudar um pouco o quadro ainda desconfortável a rapidez da queda de juros em um ambiente de descompressão monetária.
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