Mariana Haubert, Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Tido como um dos senadores indecisos que poderiam definir o placar do impeachment, Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou nesta quinta (4) que não irá "votar com medo nem mesmo de ser chamado de golpista" durante seu discurso na Comissão Especial do Impeachment.
O senador sempre evitou declarar claramente como iria votar no julgamento final da presidente afastada, Dilma Rousseff, mas hoje ele sinalizou posição favorável ao impeachment ao rebater uma fala do líder do PT, Humberto Costa (PE), que comparou o atual processo contra Dilma com o golpe militar de 1964.
Ao comparar a situação atual com a do então presidente João Goulart, que foi deposto pelo golpe, Cristovam afirmou que hoje em dia não existem tanques de guerra nas ruas, o direito de defesa foi garantido e um comando militar não tutela o Congresso Nacional.
"O Comando Militar em 64 não deu 180 dias para o Parlamento julgar o presidente sob o controle, o comando do Superior Tribunal Militar. O Comando Militar não deu essa possibilidade prevista na Constituição. Também não colocou no lugar de João Goulart um civil escolhido pelo próprio João Goulart, como é o caso do Presidente Temer", afirmou Cristovam.
Nesta toada, o senador rechaçou o título de golpista imposto pelos que defendem a volta da presidente afastada. "Não sou golpista, como o Senado não é um quartel. Agora não sou covarde para, com medo desse nome, decidir o meu voto por um lado que não traga esse nome. Apesar de tudo, o que a gente tem que fazer aqui é votar pelo País", disse.
Ele afirmou que vai "votar pelo Brasil", independentemente das consequências eleitorais e pessoais que possa vir a ter. "Vou votar pelo Brasil, independentemente das consequências, das consequências eleitorais, de perder voto; sentimentais, de perder amigos; de prestígio internacional, que sei que vou perder muito porque essa intriga e essa narrativa chegaram lá; e até mesmo ameaças físicas que cada um de nós pode sofrer - e já estive perto disso em alguns momentos nessas últimas semanas", disse.
Em seu discurso, o senador ainda criticou os esquemas de corrupção em que o PT se envolveu nos últimos anos e afirmou que João Goulart não sofreu impeachment mas foi destituído porque tentava fazer reformas estruturais no país.
"A bandeira da corrupção de que se falou naquela época também - os militares falavam que havia corrupção, mas não havia prova. Agora tem gente presa, ligada ao governo. Há empresários presos ligados por formas diversas ao governo. Não dá para comparar com 1964", disse.
Logo em seguida, Costa respondeu ao colega. Ele afirmou que vários senadores quando votaram pela admissibilidade do processo, afirmaram que era preciso investigar e constatar a existência ou não de um crime de responsabilidade praticado por Dilma. Este foi o argumento usado por Cristovam na ocasião.
"Eu fiz uma comparação até para mostrar que o golpe, nos novos tempos se dá de uma forma diferente. Graças a Deus que os militares não estão envolvidos nisso, mas, se os donos do Brasil considerassem que fosse necessário e tivessem as mesmas relações que tinham anteriormente, teriam feito isso para derrubar a Presidenta Dilma. Então, estamos falando aqui das ameaças sutis que se concretizam contra a democracia", disse.
Costa provocou Cristovam ao afirmar que ele deveria ter dito claramente se está convencido de que a presidente afastada praticou crime ou não e se o governo interino tem legitimidade. "Vai chegar a hora de dizer", respondeu Cristovam.
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