• Dilmistas se dizem alvo de censura; em troca, ouvem a sertaneja ‘Vá com Deus’, cantada pelo senador Magno Malta
Maria Lima - O Globo
Foram cem dias de trabalho, desde a primeira reunião após a Câmara aprovar a abertura do processo de impeachment, com a presidente Dilma Rousseff ainda no cargo. E os gritos, ataques, e quase vias de fato, entre os 15 senadores governistas e os cinco da nova oposição marcaram até os minutos finais o funcionamento da comissão especial do impeachment no Senado.
Ontem, nas últimas horas da disputa que pode levar à perda do cargo da presidente afastada, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoBAM) — uma das principais defensoras da petista nos últimos meses — tentou sem sucesso ganhar mais tempo, com uma discussão sobre os termos da ata da comissão.
Quando a votação já se encaminhava para o resultado de 14 a cinco votos contrários a Dilma, o senador Magno Malta (PR-ES) mandou um recado para ela: cantou uma música da sertaneja Roberta Miranda:
— Vou dedicar essa canção da grande cantora Roberta Miranda à presidente Dilma: “Vá com Deus! Vá com Deus”.
Antes de começar o último embate, os lados foram demarcados pelos figurinos da “coxinha” Ana Amélia (PP-RS), com um conjunto de casaco e camisa verde e amarelo bandeira, e pela “mortadela” Fátima Bezerra (PT-RN), com um terninho vermelho PT combinando com o batom. Pertencente ao PMDB do presidente interino, Michel Temer, mas dilmista até a raiz dos cabelos, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) escolheu um vestido com retângulos vermelhos intercalados com retângulos azulões.
A paciência do presidente Raimundo Lira (PMDB-PB) — que em alguns momentos levou governistas ao desespero — foi para o espaço quando Vanessa, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ) o acusaram de censura, devido a sua decisão de tirar das notas taquigráficas ataques ao parecer de Antonio Anastasia, chamado de fraude.
Diante da gritaria, Raimundo Lira subiu o tom:
— Gostaria que ouvissem a palavra do presidente. Eu vou falar! Quando alguns senadores chamaram o PT de “quadrilha” e disseram que petistas deveriam estar presos, eu mandei retirar das notas taquigráficas. Agora que dizem que o relatório é fraudulento é censura?
Na confusão, já em processo de votação, Vanessa Grazziotin tentou uma última manobra com questão de ordem para que a votação só ocorresse após a publicação da ata da sessão. Assim, poderia se checar se termos ditos na sessão foram cortados ou mantidos.
— Não tem questão de ordem agora. Com a palavra, o senador Magno Malta! — reagiu Lira.
— E aproveitem que estou calmo! — provocou Magno, sentado ao lado de Vanessa, entoando em seguida a música do adeus a Dilma.
Durante duas horas e meia, os cinco senadores que apoiavam Dilma continuaram batendo boca com os pró-Temer. Enquanto os antidilmistas votavam, repetindo que ela praticara crime de responsabilidade e que isso estaria comprovado pelo relatório, o autor do texto, Antonio Anastasia (PSDBMG), ouvia os ataques ao seu trabalho sem se abalar.
Ao final da votação, quando foi anunciado o placar, Lira decretou o fim da sessão e dos trabalhos da comissão, mas Gleisi e Vanessa continuaram protestando:
— Nãoooo!! Presidente, presidente! — apelava Vanessa.
— Presidente, presidente, ainda temos declaração de voto! — gritava Gleisi Hoffmann, já com a sessão encerrada.
Mas, se depender dos cinco, ainda há muita saliva a gastar contra o “golpe” e o “presidente usurpador” na sessão de votação do parecer de Anastasia, na próxima terça-feira no plenário, e nas sessões de julgamento a partir do dia 25.
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