quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Isolada, Dilma vai a julgamento

Na reta final, Dilma perde mais do que ganha

Por Vandson Lima e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Sem apoio da cúpula do seu próprio partido, o PT, no principal argumento que pretende apresentar aos senadores para tentar salvar seu mandato - de realização de um plebiscito para novas eleições - a presidente afastada Dilma Rousseff chega ao julgamento final do impeachment em um cenário que indica ter mais votos a perder do que a ganhar.

Outrora seu aliado mais poderoso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já mudou de lado: acertou-se com o presidente interino, Michel Temer, passou a defender medidas caras ao governo e acompanhará o correligionário na viagem à China, para participar da reunião da cúpula do G-20.

Renan, que não votou em fases anteriores do processo, avalia agora a conveniência de depositar ou não um voto em favor de Temer. Há um descontentamento no Planalto com o simbolismo de sua possível abstenção, que na prática seria um voto pró-Dilma. Além disso, cobram o acerto já desenhado, no qual o deputado Marx Beltrão (PMDB-AL), aliado de Renan, assumirá o Ministério do Turismo quando Temer voltar da China.


Renan vislumbra que a sessão de julgamento, que começa hoje, seja concluída na madrugada de terça para quarta-feira. Interlocutores do Palácio do Planalto apostam na ampliação da margem favorável ao impeachment, alcançando até 61 votos.

Não é só otimismo dos governistas. Aliados de Dilma reconhecem que os articuladores do governo "tem muito poder de fogo" e receiam perda de votos por conta da forte articulação junto a senadores da Bahia, como Roberto Muniz (PP) e Otto Alencar (PSD). Governador do Estado, Rui Costa (PT) tenta manter os dois a favor do retorno de Dilma.

Muniz é suplente de Walter Pinheiro, ex-petista que se licenciou para assumir a Secretaria de Educação da Bahia "Se necessário, chamaremos Pinheiro [que votou contra o impeachment] de volta", contou um senador petista.

Ao longo do processo, a petista perdeu um voto, de João Alberto Souza (PMDB-MA), aliado do clã Sarney e de Renan. Com isso, a base de Dilma se resumiu a 21 senadores. São necessários 28 votos contra para que ela retorne ao cargo.

Temer e aliados monitoram de perto também senadores do Maranhão, Estado que deu a maior votação proporcional para Dilma em 2014, com 78,7% no segundo turno. Eles estiveram com Temer para falar da criação da zona de exportação no Porto do Itaqui, em São Luís.

Aliados de Dilma acreditavam, ainda, no voto de Acir Gurgacz (PDT-RO), que até participou de almoço com a petista. Agora, articuladores do PT não sabem como Acir se posicionará. Em uma última cartada, o grupo aliado de Dilma tenta convencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ir a Brasília conversar com senadores que não declaram os votos.

"Podemos conseguir os 28 ou então ficar só com 18", disse um articulador petista, explicando que senadores indecisos só votariam com Dilma se ficar comprovado um placar favorável a ela. Querem, afinal, ser governo.

Já senadores da base de Temer fecharam acordo para reduzir as perguntas às testemunhas, cuja participação no julgamento deverá ocupar, pelo menos, os dois primeiros dias da sessão.

A ideia é acelerar essa fase inicial: apenas líderes partidários ou um escolhido por legenda apresentaria questionamentos. "Assim se evita repetições e prolongamentos. A estratégia é dar racionalidade, objetividade", disse o senador Agripino Maia (DEM-RN). "Seria mais do mesmo. As respostas da defesa já não convenceram quando ouvidos na comissão especial do impeachment", afirmou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO). Essa etapa está prevista para quinta-feira, sexta e, talvez, sábado.

Na segunda-feira, Dilma vai ao Senado, falará por 30 minutos e depois responderá perguntas. Acusação e defesa apresentam argumentos na terça e, depois, os 81 senadores terão 10 minutos cada para discursar. A votação ocorre na sequência e, se 54 senadores consideraram que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade, Dilma terá seu mandato cassado e perderá os direitos políticos por oito anos.

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