• Durante ato com apoiadores em Brasília, presidente afastada afirma que vai ao Senado na segunda-feira ‘para que um golpe nunca mais aconteça no País’
Vera Rosa e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na véspera do início de seu julgamento, a presidente afastada Dilma Rousseff disse que irá se defender no Senado, na segunda-feira, para que “um golpe nunca mais aconteça” no País. Num ato público que pode ser o último antes do impeachment, Dilma lembrou o suicídio de Getúlio Vargas, que tirou a própria vida sob pressão para renunciar, e também o exílio de João Goulart no Uruguai para dizer que não desistirá da luta.
“O que eu vou fazer lá no Senado? Eu vou defender a democracia, os interesses legítimos do povo e, sobretudo, construir os instrumentos para permitir que um golpe nunca mais aconteça em nosso País”, disse.
A presidente afastada foi recebida no Teatro dos Bancários, em Brasília, com flores e sob gritos de "Volta, Dilma!", "Dilma, guerreira, da pátria brasileira", "Olê, olê, olá, Dilma, Dilma" e "Me Representa!"
"Nós somos os responsáveis por ter construído um outro tempo histórico. Hoje eu não tenho de renunciar, não tenho de me suicidar. Não tenho de fugir pro Uruguai. É um outro momento histórico", disse a petista, com a voz rouca.
Na plateia, alguns militantes estavam vestidos com a bandeira vermelha da campanha eleitoral de 2014, que trazia a inscrição Dilma em letras garrafais. O nome do vice Michel Temer, porém, foi riscado com caneta.
Durante os trinta e sete minutos de discurso, Dilma voltou a dizer que será necessária uma eleição para se "recompor todas as instâncias democráticas no nosso País".
"Estão tentando substituir um colégio de 110 milhões de pessoas por um colégio de 81 senadores. Estão tentando o retrocesso de impor ao País uma eleição indireta, porque é disso que se trata. Numa eleição indireta, só 81 discutem o programa. O que está em curso no nosso País é rasgarem a constituição", comentou a petista, que vai ao Senado Federal na segunda-feira se defender contra as acusações.
A presidente afastada argumentou que o golpe nasce de "quatro derrotas sistemáticas que ocorreram nas últimas eleições presidenciais", referindo-se às suas vitórias e as de Luiz Inácio Lula da Silva nas quatro eleições presidenciais ocorridas entre 2002 e 2014.
"O que eu vou fazer lá no Senado? Eu vou defender a democracia, o projeto político que eu represento, defender os interesses que eu acho que são os interesses legítimos do povo brasileiro, e sobretudo, construir os instrumentos que permitam que isso nunca mais aconteça em nosso País", afirmou Dilma.
Ao comentar o processo de impeachment, Dilma voltou a dizer que a Constituição está sendo rasgada e que a estão condenando por um crime que ela não cometeu.
"Ora, não tem tanque nesse momento, não tem armas nesse momento, só uma arma: a arma que pretende ser discreta de rasgar a Constituição. Mas as instituições estão de pé. Então, o que é isso que está acontecendo? É um golpe em que o ataque a árvore é feito por parasitas que tomam conta das diferentes instituições", analisou. "A única coisa que mata parasita antidemocrático é o oxigênio do debate, da crítica, da verdade", prosseguiu a petista.
Militantes. O evento desta quarta-feira foi organizado pela Frente Brasil Popular, que reúne siglas como o PT e o PCdoB e movimentos sociais, como a CUT, o MST e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Os ex-ministros Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Eleonora Menicucci, Miriam Belchior e o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) acompanharam Dilma no evento. A reportagem não identificou a presença de nenhum senador.
Dirigindo-se ao público que lotou as 474 poltronas do Teatro dos Bancários, espalhando faixas com mensagens "Fora, Temer Golpista", "Comerciários contra o golpe", "Num Congresso de bandidos, os honestos é que são réus. Força, Dilma!, a presidente afastada disse: "Vocês são o que melhor aconteceu para mim e para o País nestes tempos tão sombrios".
O julgamento final do impeachment de Dilma Rousseff começa nesta quinta-feira, às 9h, e deve se arrastar até o início da próxima semana. Na terça-feira, 23, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, negou pedido da defesa para anular o processo de impeachment.
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