quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Temer prepara pronunciamento à Nação

Por Andrea Jubé, Cristiano Zaia e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente interino Michel Temer já começou a redigir o seu pronunciamento à Nação, caso seja efetivado no cargo nos próximos dias, após a conclusão do julgamento do impeachment. O discurso, em tom otimista, será veiculado em cadeia nacional de rádio e televisão logo após a posse e juramento de Temer em sessão do Congresso Nacional. A expectativa do Palácio do Planalto é que o impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff seja confirmado pelos senadores, ainda no dia 30 de agosto, com um placar de no mínimo 61 votos - sete além do necessário.

A equipe de Temer planeja o governo efetivo. Depois de participar da cúpula do G-20 na China, Temer comandará o desfile de 7 de Setembro e participará da abertura dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro. Em contrapartida, sob pressão da Frente Parlamentar da Agropecuária, Temer deve rever a decisão de recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), já anunciada pela Casa Civil.

Temer começou a escrever sua fala aos brasileiros, que terá um tom mais popular, em contraposição aos discursos que fez até agora como interino. Ele já mostrou esboços do texto aos ministros mais próximos. Um dos auxiliares mais ouvido nessa missão é o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim.


Temer falará com vistas ao futuro, em tom otimista, pedindo a confiança dos brasileiros em sua equipe para que seja possível recuperar a economia e evitar a perda de mais empregos. Retomará a narrativa de que recebeu um país em crise, com 12 milhões de desempregados, e com um rombo fiscal de R$ 170,5 bilhões, e que para reparar esse cenário, serão necessárias reformas duras, mas estruturantes. Defenderá a proposta de emenda constitucional que fixa um teto para os gastos públicos, e a necessidade de reformar a Previdência Social para garantir a aposentadoria dos mais jovens no futuro. Embora o julgamento possa se estender até quarta-feira, dia 31, aliados de Temer pressionam os senadores para que o processo seja abreviado. Há negociações de bastidores para que o mínimo de senadores formulem perguntas para Dilma, e sua participação no Senado seja encerrada no início da tarde de segunda-feira.

Ontem, em um almoço com deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), no Planalto, Temer assegurou que não fará nenhum movimento para recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário. E se decidir nessa direção, não agirá antes de fazer uma consulta prévia à bancada.

"Quanto à recriação do MDA, achamos que não seria uma sinalização positiva para o setor e o presidente deixou claro para a gente hoje que esse assunto não está na sua mesa agora", disse ao Valor o presidente da FPA, deputado Marcos Montes (PSD-MG). "Mas se vier a recriar o ministério, deve ser mais para a frente, e ele ficou de discutir antes com a gente", concluiu. O Valor apurou que Temer decidiu ser mais cauteloso neste assunto, porque receia perder o apoio da bancada ruralista, uma das mais fortes no Congresso. Desde que decidiu fundir o MDA com o Desenvolvimento Social, o governo Temer vem sendo alvo de protestos por parte de movimentos sociais que cobram a recriação da pasta.

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