Enquanto o dólar em queda assusta empresários, preocupados com a perda de mercado no Brasil e no exterior, especialistas do setor financeiro discutem até onde poderá cair a moeda americana. Sobra dinheiro no mundo rico e enormes aplicações têm fluído para o Brasil, em busca principalmente de juros muito mais altos que os de outros países. A cotação, ontem, estava em R$ 3,14 às duas da tarde. Um mês antes pagavam-se R$ 3,31 por dólar comercial. Mas a desvalorização começou há mais tempo, depois de um longo período de alta. O valor subiu de R$ 3,48 há um ano para R$ 4,04 no começo de 2016 e se manteve em níveis satisfatórios para a indústria durante boa parte do primeiro semestre, facilitando as exportações de fábricas ainda em condições de atuar no mercado externo e encarecendo os produtos estrangeiros.
Com a mudança do quadro, executivos são forçados a enfrentar uma nova fase de insegurança. Como a evolução do câmbio é muito incerta, neste momento, é difícil calcular a formação de preços em moeda estrangeira e planejar os negócios no mercado externo. De toda forma, a atividade é empurrada para a frente, no dia a dia, mas com muitas dúvidas. Não se pode parar de repente, à espera de um cenário mais claro, mas o risco de erros e de perdas é considerável.
Levam-se em conta dois fatores na maior parte das discussões e de apostas sobre a evolução do câmbio. Um deles é a política monetária das maiores potências. Sobra dinheiro na Europa, os bancos centrais, tanto da Inglaterra quanto da zona do euro, despejam enormes volumes de moeda nos mercados para estimular os negócios. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) iniciou e interrompeu uma cautelosa alta de juros.
Não se sabe quando será o próximo aumento, mas poderá ocorrer em breve, se o emprego continuar em firme e rápida expansão. Quando vier o novo aumento, capitais serão desviados para os títulos americanos e sobrará menos dinheiro para os mercados emergentes.
O Brasil também será afetado, dizem especialistas, se as condições financeiras ficarem menos folgadas nos Estados Unidos e, de modo geral, nos países mais avançados. Mas ainda restará, é prudente admitir, um forte atrativo. As taxas de juros permanecerão muito acima dos níveis internacionais, ainda haverá estímulo a aplicações especulativas e ainda sobrarão dólares no País, com efeitos no câmbio.
Mas o problema, afinal, está no mercado de câmbio, nos juros ou em algum outro fator? Empresários brasileiros frequentemente se queixam do câmbio, como se as autoridades tivessem a obrigação de buscar níveis favoráveis à competitividade das empresas. Também se reclama dos juros, porque dificultam os negócios, encarecem os investimentos produtivos e, além disso, interferem na formação do câmbio.
Há alguma verdade em todas essas alegações, mas os fatos são mais complicados e alguns são geralmente esquecidos nas falas dos empresários.
Primeiro fato: os juros são altos porque a inflação brasileira é muito maior que a da maior parte dos mercados, tanto desenvolvidos quanto emergentes. Os aplicadores estrangeiros no Brasil podem ganhar esses juros sem sofrer as perdas causadas pela inflação, porque se limitam à aplicação de dinheiro.
Segundo fato: inflação mais alta que a de outros países também afeta o câmbio pela mera diferença da variação de preços dentro e fora do mercado nacional. Raramente, no entanto, algum empresário da indústria reclama da inflação, como se fosse assunto secundário.
Terceiro fato: pressões inflacionárias persistirão enquanto as contas públicas permanecerem seriamente desarranjadas. Para consertá-las será preciso tomar medidas duras e, em alguns casos, contrárias a interesses de empresas beneficiadas, por exemplo, por isenções fiscais e facilidades financeiras injustificáveis. Se o conserto avançar, as pressões inflacionárias diminuirão e o País terá juros mais civilizados. O capital estrangeiro ainda será atraído, mas pelas oportunidades de ganho na produção, e o Brasil será um país mais normal.
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