sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Temer nos EUA - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Além da inquestionável guinada em relação ao regime moribundo de Nicolás Maduro na Venezuela, a política externa brasileira age determinantemente na outra ponta, garantindo a reaproximação efetiva do Brasil com os Estados Unidos, maior parceiro em investimentos, o segundo maior em comércio (o primeiro é a China) e um mar de oportunidades na área de ciência e tecnologia.


É nesse ambiente que o novo embaixador do Brasil, Sérgio Amaral, vai chegar no fim deste mês a Washington e já arregaça as mangas para preparar encontros bilaterais em paralelo para o presidente Michel Temer, que irá a Nova York para a abertura anual da ONU, em 20 de setembro. A primeira viagem internacional de Temer como presidente efetivo (como o Planalto espera e as circunstâncias indicam) será no dia 4 à China, para o G-20. A segunda aos EUA, para a ONU.

Horas depois de ser sabatinado pelo Senado para o cargo – o mais desejado por dez entre dez diplomatas ao redor do mundo –, Sérgio Amaral relatou à coluna que vem tendo contatos de trabalho com embaixadores estrangeiros em Brasília e com ministros de Temer. Foram três encontros com a embaixadora americana Liliane Ayalde, que está de saída do cargo. Um deles, de cunho social, foi num sábado de julho, na bucólica Pirenópolis, a duas horas de Brasília, com a presença do secretário geral do Itamaraty, Marcos Galvão. “Tudo na minha vida começa em Pirenópolis”, disse Amaral, que tem casa na cidade goiana. As orelhas de Maduro devem ter ardido muito.

São 50 iniciativas na pauta Brasil-EUA, “algumas muito devagar, outras que nem andaram”, disse Amaral. O que ele não diz, porque diplomatas não são chegados a confrontos diretos, é que esse ritmo de tartaruga se deve a um erro dos EUA, flagrados grampeando até mesmo telefones da presidente Dilma Rousseff, agora afastada, e a um erro crasso de política externa na era PT: a predominância de crenças ideológicas sobre interesses pragmáticos do País.

“Nós vamos avançar, e muito”, promete Amaral, citando três temas que já ganharam velocidade: 1) o comércio de carne in natura foi destravado; 2) o “Global Entry”, que vai facilitar vistos para visitantes frequentes, particularmente empresários, deve sair logo (durante a ida de Temer aos EUA?); e 3) um bloco de medidas para facilitação de comércio bilateral.

“Podem ser concluídos rapidamente, com a importante sinalização de que as coisas estão andando”, diz o novo embaixador em Washington, que ontem se encontrou com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e já teve várias conversas com outros ministros. Com Moreira Franco, da infraestrutura, discutiu mudanças no marco regulatório para tornar o País mais atrativo a investimentos estrangeiros. Com Fernando Bezerra Filho, de Minas e Energia, repassou frentes comuns na área da energia convencional e não convencional. Com Ricardo Barros, da Saúde, informou-se sobre o acordo, já selado no final de Dilma, para produzir vacinas contra a dengue.

A intenção do novo embaixador é “mapear o terreno, para destacar as prioridades e dar foco ao fundamental nesse processo de aproximação”, que é carro-chefe da política externa de Temer e José Serra, considerando a obviedade de que os EUA são a maioria potência mundial. Detalhe: apesar disso, o Itamaraty do PT criou montes de postos e vagas por aí afora, mas fez o oposto na embaixada em Washington. O número de diplomatas caiu de 23 para 17. Vá-se entender...

Temer e capital. Foi difícil convencer Meirelles de que retirar o veto ao aumento de salários era essencial para aprovar a renegociação da dívida dos Estados no Congresso e, além disso, não mudaria nada, porque o veto já existe. Tarde da noite, Geddel Vieira Lima apelou: “Então, Meirelles, vai lá com seu charme todo e aprova no Congresso!”. O ministro da Fazenda jogou a toalha.

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