• Da esquerda à direita, do Brexit a Donald Trump, ganham força movimentos populistas e discursos radicais contra o processo de integração das nações
A saída dos britânicos da União Europeia (UE) é a expressão mais drástica de uma tendência política internacional que, infelizmente, ganha corpo nos últimos anos, marcadamente após os efeitos negativos da crise financeira global, que eclodiu em 2008.
A frustração generalizada se tornou campo fértil para uma retórica populista que, à esquerda e à direita, promete soluções milagrosas investindo contra a globalização e a integração política, econômica e cultural.
Alguns, mais radicais, fazem até mesmo falsos diagnósticos baseados em sofismas xenófobos, para defender a desintegração de blocos e instituições multilaterais, o fechamento de fronteiras e a construção de muros. Assim, deslocam a fonte dos problemas para o exterior e oferecem uma falsa solução mágica, a partir do isolamento. Para eles, não importa que a lógica, sustentada em estatísticas socioeconômicas, desminta tal retórica, como mostram, por exemplo, os dados mais recentes da economia do Reino Unido, que já provocam o arrependimento em muitos eleitores que caíram no canto da sereia e votaram pelo Brexit.
Do esquerdista Syriza, do premier grego Alexis Tsipras, à extrema-direita Frente Nacional, da francesa Marine Le Pen, passando pelo espanhol Podemos, de Pablo Iglesias, e o Fidesz, do premier húngaro Viktor Orban, crescem vertiginosamente na Europa discursos contra a união continental, todas prometendo devolver uma dignidade que se perdeu com a configuração da União Europeia.
Como mostram séculos de convivência, o fluxo de imigrantes, a integração, as trocas comerciais e a miscigenação cultural representam o oxigênio necessário à prosperidade dos povos, sobretudo naqueles onde a população envelhece. E a UE talvez seja a experiência mais avançada nesse sentido.
E não se restringe à Europa este nacionalismo retrógrado, saudosista de uma suposta grandeza perdida. Na campanha presidencial americana, o candidato republicano, Donald Trump, vem falando ao coração de um segmento da população americana sensível ao tom truculento, racista e xenófobo, que assusta até mesmo membros do próprio partido. O discurso de Trump é recheado de sentimentos de ódio, com promessas de deportações e o fim da OMC, e pressagia tempos difíceis à frente, caso saia vencedor do pleito.
Os dias que correm estão repletos de desafios complexos, que exigem uma mentalidade aberta em vez de portas fechadas em dogmatismos esgotados. A globalização foi uma resposta adequada aos problemas atuais. A integração da China e da Índia à economia global, por exemplo, tirou centenas de milhões de pessoas de um nível de miséria que evocava tempos medievais. Protecionismos, fechamentos de fronteiras e discursos extremistas ameaçam trazer de volta obscurantismos duramente superados.
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