Por Andrea Jubé, Thiago Resende e Vandson Lima – Valor Econômico
BRASÍLIA - Diante da decisão de pronúncia do Senado que a tornou ré, e depois de idas e vindas, a presidente afastada Dilma Rousseff finalmente decidiu que enviará, nos próximos dias, uma carta aos senadores e aos brasileiros, defendendo a realização de um plebiscito sobre a antecipação das eleições. A decisão, que agrada a bancada de senadores do PT, foi comunicada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um jantar no Palácio da Alvorada, na noite de terça-feira, com a presença de ex-ministros de seu governo.
O placar de 59 senadores favoráveis à pronúncia não desanimou a presidente afastada, afirmam aliados. Porém, entre lideranças do PT, "há um sentimento de descrença", na definição de um dos presentes nas reuniões dos últimos dias. O próprio Lula tem dúvidas sobre a estratégia do plebiscito.
Dilma havia lançado a proposta do plebiscito na entrevista que concedeu à TV Brasil, pouco depois do seu afastamento, mas ressentiu-se que os senadores simpáticos à ideia não foram a público endossá-la. Depois, Dilma recuou e passou a dizer que dependia da unanimidade dos movimentos sociais que a apoiam. O presidente do PT, Rui Falcão, e os líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e da Central Única dos Trabalhadores opõem-se à proposta.
Agora Dilma está convicta e pretende divulgar o documento na próxima semana, mas nem Lula viu ainda a edição final do documento. Dilma não vai seguir todas as recomendações de seu antecessor, e antes de divulgar a carta, vai apresentá-la aos líderes dos movimentos sociais. O ponto principal é a realização do plebiscito, mas Dilma reforçará o discurso de "golpe", defenderá sua biografia e fará apontamentos sobre a economia, como a defesa de juros menores.
Na noite de terça-feira, Dilma confraternizou com Lula - que não encontrava havia um mês - e ex-ministros como Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), que reforçam sua equipe no Alvorada, além de Miguel Rossetto (Secretaria de Governo) e Aloizio Mercadante (Educação/Casa Civil). As dificuldades do PT nas eleições municipais também foram tema do encontro.
Ontem Dilma reuniu, em almoço no Alvorada, o presidente do PT, Rui Falcão, e os senadores que votaram contra a pronúncia. Mas o líder do PDT, senador Acir Gurgacz (RO) - que votou a favor de torná-la ré - também compareceu. Na reunião, com a presença de 15 senadores, Dilma disse estar tranquila e que o processo contra ela não está perdido. Petistas sabem que o cenário é difícil, mas ainda não desistiram. Os presidentes do PCdoB, Luciana Santos, e do PDT, Carlos Lupi, também compareceram.
A base de apoio a Dilma encolheu um voto na pronúncia, mas aliados minimizaram. Perderam o senador João Alberto (PMDB-MA), mas ainda contam com Cristovam Buarque (PPS-DF), com quem Dilma chegou a esboçar versões da carta. "Alguns [senadores] disseram que não é voto definitivo [durante a sessão iniciada ontem e que se estendeu pela madrugada]. Ainda existem indefinições", frisou o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-líder do governo, que participou do almoço com Dilma.
Aliados afirmam que a carta será "um documento dela", escrito pela própria presidente afastada, avaliando a atual conjuntura do país, as consequências do processo de impeachment e a defesa do plebiscito, se retornar ao cargo, para que a população seja consultada sobre a ideia de antecipar eleição presidencial. Também pode citar planos para eventual novo governo.
"Não é uma despedida", ressalta Humberto Costa. O texto vem sendo constantemente adiado. Agora, porém, tem "um papel", pois o processo de impeachment está na reta final - período em que os senadores terão uma posição definitiva.
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